sexta-feira, 3 de abril de 2009

Last

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit
Ela me apareceu de repente, com um ar de desprotegida e abandonada. A vi como um pequeno gato, com belos olhos e jeito meigo, enroscando em minha perna na rua. Um ser que eu precisava cuidar com todo carinho, afeição, sorrisos, abraços, passeios... Kundera usaria outra metáfora, talvez: a de um bebê que chega num cesto pelo rio. E esse encontro me encantou.

E com esse encanto reconceituei o que eu pensava sobre o amor. Daquele amor distante, intocável e cruel ao coração, tornou-se o Amor de querer bem. De cuidar, de desejar a felicidade do outro acima da sua própria. E por muito tempo a amei, e talvez a tenha amado como nunca amara ninguém antes.

Um adendo paralelo ao assunto: talvez para as pessoas que achem o ser humano naturalmente individualista, o Amor seja um milagre divino, inexplicável pela razão. Eu prefiro pensar da maneira contrária: que o ser humano só pode viver junto de outros seres humanos, e que o Amor é normal e natural. E eu prefiro MUITO que seja assim.

Retomando:

Escolha após escolha, cenário após cenário, circunstâncias após circunstâncias, tudo foi mudando. Aos pouquinhos, assim, a cada momento o relacionamento mudava de caminho, chegando a ter rupturas bruscas, desculpas esfarrapadas e perdões destituídos de sentido. Parecia, mesmo assim, que o amor não era posto a prova.

Enfim, tornou-se clara a última escolha do nosso casal. Ela escolheu seguir com as próprias pernas, e eu escolhi respeitar a escolha dela. Não que eu tenha sido as pernas dela por todo o tempo que ela surgiu na minha vida, mas eu sempre me vi, creio que não erroneamente, como uma pessoa que ela sempre podia contar e que sempre, pelo menos, TENTAVA dar uma base de compreensão da vida com mais sorrisos e cores, com mais belezas e flores.

Creio que, no fim, eu fiz certo. De fato, não podemos apoiar a nossa vida em ninguém, no sentido de precisar desse alguém para viver. Apesar da grande vontade que sinto as vezes, chorar turbilhões de indisposições para a vida seria hipocrisia sobre o que eu mesmo falava a ela. O querer-bem está sempre relacionado ao outro, e nunca uma necessidade egoísta de manter esse outro amarrado a algemas ao seu pulso.

E, mesmo com todos os problemas que afloraram...

...

O que eu mais quero é que ela esteja bem, seja lá onde for.