Por ela sinto a saudade de toda a humanidade. Em minha mente, seu sorriso esplandece por noites incontáveis as quais a chuva substitui o sono e a inquietação substitui o desmaio diário.
Enquanto as gotas no telhado salpicam, voam, são guiadas pelo vento para os meus olhos, eu lembro dos dela e esmoeço. Toda grandeza é insignificante sem o aconchego de seu colo, no qual descansava minhas mais profundas alegrias e desesperos.
Já ouvi uma vez que a saudade é uma permissão concentida que damos a nós mesmos para sentir tristeza. Acrescento: essa pequena tristeza que sinto é o que me faz humano, é o que me aproxima do mundo e de mim mesmo. O pensamento flui como uma folha suave que cai de uma árvore e é levada pelo vento até repousar em um solo-cama fértil.
Eu sei que posso levantar, deixar de pensar nela, abrir um livro, tomar um conhaque. Não quero. Um sentimento de vazio de vez em quando nos faz bem: faz perceber que nem tudo está certo e nem tudo nos completa. Nos tira da inércia. Hoje é contemplação e amanhã pode ser ação ou até esquecimento, mas nunca se mantém só na observação da falta que ela me faz.
Essa falta me domina algumas noites. Em outras, tenho que viver. O melhor momento para refletir sobre a vida é no leito, pois penso tudo que errei e dou desculpas esfarrapadas para tais erros, que nem sempre são realmente erros, mas preciso de uma direção lógica para tudo que acontece comigo. O que é inútil. É muita pretenção tentar entender tudo. Principalmente a saudade...
Ah, essa saudade... pode acabar hoje, no momento em que eu cair no sono. Será que ela vai visitar meus sonhos? Ou será que amanhã estarei preocupado com outras coisas? Não importa. O momento é sublime, triste, belo e completo em si só. Mas eu não sou. Me falta algo. Me falta ela.
Amo
Há 11 anos