sexta-feira, 16 de abril de 2010

Trinta anos de morte para lembrar seus 75 anos de vida.

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sartre

Descobri Jean-Paul Sartre quando tinha meus 18 anos. Comecei pelo seu texto mais didático, "O Existencialismo é um Humanismo", que explica superficialmente os principais conceitos da filosofia defendida por ele e por seus iguais. Depois dele, li vários outros livros dos existencialistas, principalmente de Sartre e Albert Camus, que me fizeram levantar e refletir sobre algumas questões - que, infelizmente não são mais postas - sobre a condição humana.

Primeiro, é importante dizer que não existe natureza humana e, para os existencialistas, não existe Deus. Sendo assim, a existência precede a essência. Ou seja, não somos nada antes de viver. Somos determinados pelas nossas experiências e pelas escolhas que fazemos a partir delas.

Somos livres, mas não em nossa totalidade. Os limites da liberdade são o que a faz real. Qualquer tipo de liberdade total só existe no campo  das idéias, não aqui embaixo. Porém, parece que, atualmente, nos prendemos a explicações que tiram de nós a RESPONSABILIDADE de sermos como somos, de escolhermos o que escolhemos. "Nasci assim", "isso é genético", "Deus escolheu", "a sociedade me condiciona totalmente" são frases criadas para eclipsar a liberdade do homem. O único limite da liberdade é ela própria: SEMPRE estamos escolhendo, condicionados pelas nossas experiências.

Responsabilidade. Outra palavra importante para os existencialistas e para Sartre. Em toda escolha que fazemos carregamos o peso de suas conseqüências como se escolhessemos para toda a humanidade. A verdadeira moral laica se baseia na hipótese mais simples: "e se todos, no meu lugar, fizessem como eu? Seria bom? Seria ruim?". Não existe uma bondade ou uma maldade anterior ao homem e não vamos para o céu ou para o inferno. O que existe são escolhas responsáveis, não por você, mas por toda a humanidade. As escolhas que não se enquadram nestas são feitas de má-fé. O individualismo latente de nossa sociedade atual parece lotar nossas escolhas de má-fé. Sabemos que é errado, mas fazemos assim mesmo, pois vamos nos dar bem. Sad, but true.

Enfim, acho que Jean Paul-Sartre, que completa hoje 30 anos da nadificação de seus sonhos, me formou éticamente, moralmente e filosoficamente. Sua perspectiva causa angústia devido a irreversibilidade do tempo: tudo que é escolhido, tudo que é feito, tudo que experienciamos... Nada volta atrás. Forma-me, também, como perspectiva de intelectual: aquele que luta, aquele que atua na sociedade, aquele que sabe o papel que tem frente às desigualdades do mundo. O intelectual atuante.

Poderia escrever mais milhões de parágrafos sobre o autor, mas fica aqui essa pequena homenagem e minha interpretação de seus escritos, com o desejo de que os leitores do blog também se interessem, tanto por sua filósofia quanto pelos seus romances. "A Idade da Razão" e "A Náusea" são ótimos para começar, além do já citado "O Existencialismo é um Humanismo".

E aos filhos de Sartre, como eu, um abraço especial.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Deposite sua sugestão na caixinha ao lado

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

pobres corações tristes
reclamam de tudo
pois sempre há algo a reclamar

reclamam do clima
reclamam do emprego
reclamam daquele professor filho da puta
(que passa trabalho pro dia de festa)
reclamam do amor
reclamam do ódio
reclamam da vida
reclamam da morte

reclamam, reclamam, reclamam

Não fazem nada a respeito.
Prendem-se em reclamar
e encher os outros com suas palavras vazias,
afogados em um conformismo de inanidade.

Quando forem velhos
Reclamarão de não terem feito tudo
de outro jeito.
E ainda reclamarão
uma
última
vez.

domingo, 11 de abril de 2010

O que deixa escapar o que contém

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Vão aqui algumas reflexões avulsas... não existe, aqui, a necessidade de fazer um todo coerente e nem de dar uma conclusão sobre o assunto. Basta, somente, a reflexão, tanto minha quanto de quem lerá.

 

Esse ano, duas pessoas bastante distintas, sem qualquer relação direta entre elas (tirando o contato comigo), inferiram uma mesma questão a mim: "Bruno, você me acha fútil? Você não gosta de pessoas assim, fúteis, né?". Da primeira vez eu fiquei meio sem jeito de responder. Da segunda, com aproximadamente três meses intervalo para a primeira, eu estranhei.

 

Minha primeira reflexão é num campo mais mentalista: por que diabos me perguntavam aquilo? Minha opinião conta? Vai mudar alguma coisa minha opinião ser dada sobre um assunto tão pessoal quanto um estilo de vida? É claro que nada disso foi pensado por parte das pessoas que me interrogaram, e talvez esse tipo de pergunta seja mais por uma questão de insegurança do que por minha opinião em si.

 

O segundo ponto foi o valor dessa palavra: "fútil". Digo, é uma palavra de grande valor pejorativo, e acho que ninguém gostaria de ser chamado por ela. "Vai, me chama de fútil!". De acordo com o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, vai a definição:

1- que ou o que não tem importância ou mérito; inútil, superficial

2- que ou o que tem aspecto enganador, não inspira confiança, não tem constância; frívolo, leviano <atitudes, gestos>

3- que não tem valor; insignificante <pretextos, razões>

4- que naõ tem fundamento, profundidade; tolo, pueril <não conseguiu amadurecer seu projeto, acabou descartando-o por>

Etimologia: do latim futilis: que deixa escapar o que contém, indiscreto, sem autoridade, leviano, frívolo.

 

Ou seja, toda a definição aponta para a importância e a profundidade de algum gesto, razão, palavra, enfim, ato humano. Creio que, no "popular" (apesar de não ser uma palavra tão popular assim - whatever), relaciona-se àquela pessoa consumista que só pensa na aparência e nas coisas passageiras da vida. Descartam uma busca por conhecimentos mais teóricos e considerados intelectualizados (provavelmente mais no campo da Filosofia, Artes, História, Política), que seriam assuntos realmente "importantes" e "profundos" para um indivíduo não ser taxado como fútil.

 

Tudo isso aqui não é uma dúvida pessoal no sentido direto (creio que posso ser prepotente e pouco-humilde aqui e confirmar que não sou fútil), mas sim no sentido indireto: qual é a autoridade de alguém para definir o que é fútil? Se, hipotéticamente, eu confirmasse, ou seja, falasse "SIM, você É fútil!" - não que realmente elas sejam - eu estaria afirmando que não gosto de garotas que se arrumam e pensam na roupa que estão usando? Estaria mentindo, afinal, valorizo que as pessoas pensem em sua beleza. O que eu não gosto é que tornem isso um fanatismo.

 

O problema todo está aí: em colocar a aparência ACIMA de tudo. Cria-se máscaras, e viver de máscaras é viver no vazio. O vazio nos consome, e a máscara cai, uma hora ou outra. Por isso, não acho que seja uma preocupação válida. O importante é viver a vida sinceramente, fazendo o que acha que é certo, sem tentar prejudicar ninguém – a grande dificuldade dos fúteis, pois precisam do seu ego massageado para sustentar esse tipo de existência.