segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

a criança que aprendeu a voar

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

Você é uma folha d'árvore
do campo de santana
que se desprende e voa

roçando a central do brasil
flutua livre
até as mãos de uma criança
do Morro da Previdência

essa criança segura a folha
carinhosamente
intensos olhos fixados
(fadados ao desfecho)
e guarda-a junto ao bombar
de seu sangue

e essa criança
sou eu.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Favelas, Estado, crise e vidas.

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

Pretendo, a partir deste texto, expor algumas opiniões, a luz dos meus pequenos conhecimentos histórico-sociológicos, sobre o contexto de ocupação das favelas da Zona Norte do Rio. Não pretendo ser presunçoso e achar que estou dando alguma receita de bolo para resolver os problemas cariocas, mas apenas quis sintetizar aqui o que penso, e talvez levantar questionamentos aos meus leitores.

1. A favela é, historicamente, um alvo da coerção por parte do poder público. Desde suas primeiras formações, no começo do século XX, o fato de ocuparem terrenos públicos sem pagar imposto levou a vários enfrentamentos entre essas pessoas e forças de repressão. Suas origens são diversas: o processo do êxodo rural e a remoção de populações nas regiões que interessam ao Estado, principalmente da Zona Portuária, Centro e Zona Sul.

2. As favelas tornam-se objetos do tráfico internacional de drogas, de acordo com especialistas, a partir de 1985. Como eram regiões esquecidas (ou combatidas) pelo Estado, essas facções ganharam certo apoio da população a partir do provimento de serviços que o Estado não fazia questão de se ocupar, como compra de medicamentos, empréstimo de dinheiro... com isso, a população foi sendo dominada por outra força repressiva, que também espalhava o medo, junto com dedicações paternalistas - os traficantes armados até os dentes.

3. Existe, na história da formação das forças coercitivas do Estado, portanto, uma ideia comum de que favelado é um ser inferior, que não merece respeito, passível de ter seus direitos reduzidos a nada pelo fato de viverem no mesmo espaço que o inimigo. A partir disso, formam-se milhares de estereótipos que infringem diretamente artigos da constituição, contra pessoas que são vítimas do tráfico e vivem em medo. O racismo é uma delas.

4. Eu tenho, para mim, que um Estado Democrático não pode se fazer das mesmas armas que os bandidos que ele pretende combater. Costumo criticar o imediatismo das pessoas que acham que deveria matar mesmo, meter bala em traficante, invadir as casas e torturar os habitantes das favelas para conseguir informações. Eu, sinceramente, não acho que seja bem assim. Além de ser contra combater barbárie com barbárie (visto que o Estado deve ser o protetor da soberania popular), não existe "pausa" nos Direitos Humanos. Suspendê-los por um tempo pode levar a precedentes para o abuso de forças que dominam aparatos de violência.

5. Com isso não estou defendendo um laissez-faire do Estado (que já o fez bastante), e sim o respeito aos direitos das pessoas que lá moram. A ocupação tem de ser feita com inteligência E vigilância SIM da população (isso inclui os meios de comunicação, apesar do "disserviço", né BOPE?). A ocupação militar é, infelizmente, necessária. A tortura, os roubos e as humilhações não. E isso não é apenas, como pinta a mídia, questão de corrupção individual. Está, sim, relacionada à formação histórica da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

6. A ocupação militar por si só não resolverá a questão da violência no Rio de Janeiro. A raiz do problema é a miséria da população, que não dispõe de serviços básicos e nem de paz para sobreviver. Uma solução que não foi levantada em meios públicos, mas que já foi projeto (negado) para o Governo do Estado na década de 90, é a integração da favela, por parte do Estado, à malha urbana tradicional, aliado à ocupação do Estado dessas áreas. O fim da partição da cidade. Pra mim, a presença do Estado é a POTENCIALIDADE de liberdade para essa população, mas não é garantia - visto, como eu já disse, a sua formação. Para isso se concretizar, o Estado tem que respeitar as liberdades individuais de tais populações.

7. Uma outra possível solução é a formação de novas associações de moradores, politizadas porém não-partidárias. O importante, mais do que alianças políticas, é o bem-estar dessa população. A inclusão dos intelectuais acadêmicos nesse meio pode dar uma nova utilidade à academia, além de sentar em seus gabinetes escrevendo artigos para seus pares e babando ovo de seus superiores.

8. Como disse José Murilo de Carvalho em uma entrevista, essa população de favelas foi, também historicamente, isolada do processo político. Essas pessoas não vêem o voto como um mecanismo de transformação, a não ser a curto prazo por via paternalista. Talvez a partir de um movimento direto sobre uma mudança de condicionamento cultural, que levaria anos, poderíamos eleger lideranças que dão mais atenção às necessidades de sua população do que a prestígio esportivo internacional.

Enfim, acho que isso é tudo. Desculpem pelo texto imenso, tentei ainda ser sintético. São opiniões e projetos, talvez horizontes possíveis.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

We all want to be young (but what kind of youth?)

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

Antes de ler o resto do post, "ganhe" 10 minutos da sua vida assistindo o vídeo abaixo:

 

We All Want to Be Young (leg) from box1824 on Vimeo.

 

Eu achei o vídeo de muita qualidade, gostaria de adicionar algumas perspectivas sobre as informações e análises feitas na obra.

Ao contrário da geração dos anos 60, 70 e parte dos 80, a nossa não pensa em mudar o mundo, efetivamente. Já comentei em outro post a misantropia de parte dessa população, que se preocupa mais com animais e discursos vazios de ambientalismos do que com seres humanos propriamente ditos - e, como eu disse, não que lutar por isso seja ruim, mas a não integração com a luta por uma vida melhor é, no mínimo, abstenção. Talvez o vídeo mostre bem: os que têm de 18 a 24 anos chegaram a um patamar em que podem se acomodar, fechando os olhos para as mazelas do mundo. De fato, creio que isso seja um reflexo do ambiente no qual esses jovens de hoje viveram sua infância, ou seja, os anos 90: explosão de individualismo cultural, na carroagem histórica liderada pelo neoliberalismo, levou a uma descrença geral no outro.

Não podemos esquecer que o avanço da internet, em sua totalidade, é para poucos. Aposto que a grande maioria dos leitores deste meu blog, que possivelmente se identificaram com o vídeo (como eu), passam pelo menos 4 horas por dia na frente de uma tela de computador, enquanto a grande maioria não se encontra em tal situação de acesso a altas tecnologias ou independência econômica. Ou seja, o vídeo trata, especificamente, de uma juventude multi-cultural de classe média, e eu, sinceramente, não sei a que ponto isso pode ser expandido para outros setores desta e de outras sociedades e culturas no globo.

Realmente, a publicidade ajudou a "matar" nossos "grandes heróis" de overdose. Enquanto os heróis da década de 60 e 70 eram guerrilheiros, revolucionários, buscavam mudanças, os de hoje são vampiros que brilham no sol, bruxos, elfos, e é neles que nossa juventude se reflete: em heróis domados, domesticados, que não criam grande "arruaça" à ordem vigente. E é dessa maneira que os mais velhos nos influenciam: limitando nossos pontos de atuação.

Enfim, relacionada aos seus predecessores, a nossa juventude é reacionária e humanisticamente alienada. Existem muitos avanços no campo das liberdades pessoais que poderiam ser conquistados: a discussão sobre a questão do aborto, do casamento homossexual, do estado laico, desenvolver mais a tolerância multi-cultural (onde o filme já aponta conquistas), valorização da educação e da saúde públicas... Enfim, não é uma juventude de buscar a prática libertária, e sim de usufruir das vitórias das outras gerações e voltar-se para o próprio umbigo, de maneira EXTREMAMENTE instantânea, em contradição com as grandes conexões que a internet nos permite fazer.

domingo, 24 de outubro de 2010

Perto das eleições, evidências afloram.

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

Vemos, no discurso marco-político brasileiro, a queda das ideologias. A defesa dos partidos como unidade de ideias coerentes, propostas para um bom governo interessado no bem comum, esvaziou-se para engrandecer o personalista palavreado apelativo pautado em denuncias e demagogias eleitoreiras.

A luta pela verdadeira transformação da realidade brasileira não tem lugar: o que se observa é cada vez mais uma tentativa conciliatória de práticas essencialmente contraditórias. É impossível haver Reforma Agrária se não houver expropriação. É impossível dar habitação para todos os cidadãos  se a atenção continuar centrada em aparências. É impossível dar bem-estar para a população se o Estado se nega a tomar conta das atividades dominadas pelo poder privado, onde o lucro cega a responsabilidade social - exemplo: setor de transportes.

O pragmatismo político leva a isso: valorização de algumas instituições que, ao melhor estilo maquiavélico, manterão as mesmas caras incapazes de atacar as causas no poder, lidando com efeitos para fins eleitoreiros. A ideologia tornou-se um martelo que bate forte sobre uma mesa plana: pode até fazer barulho, mas a cabeça dos pregos já estão batidas. Enquanto isso, as causas, intrinsicamente negativas (desigualdade, falta de educação, saúde e habitação) encontram novos efeitos, que mantém a dominação de antes.

Esta é a nossa aleijada democracia, onde poucos ainda cabrestam muitos e nossos representantes precisam esquivar de balões d'água e bolinhas de papel (ou pedir para que taquem mais). A "governabilidade" molda as ações e alianças de indivíduos que possivelmente têm o interesse de mudar algo. Infelizmente, mudam de maneira incrédula e superficial. O outro lado, dos que são claramente contra o povo, aplaude tais apoios, em seu íntimo político, mas apontam publicamente como corruptos, para parecer mais idônio, sempre pessoalmente, nunca ideologicamente (até porque, suas ideologias, se considerarmos alguma existência, não se sustentam com facilidade). Que suas consciências passem a pagar o preço, porque a população já paga há muito tempo.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Algumas confissões que não faço questão de esconder

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

Desde que eu entrei na faculdade de História, mudei muito. Em março de 2006, na calourada da minha turma, eu tinha acabado de sair da Crisma e já tinha críticas à Igreja como instituição. Entrava nas missas com a camisa do album Temple of Shadows do Angra. Escrevia poemas em decassílabos perfeitos e rimas pretensamente ricas falando sobre morte e amores, muito influenciado pelas minhas repetidas leituras de Álvares de Azevedo (não gostava de Augusto dos Anjos, o niilismo dele me dava nojo). Comecei a me afastar assim que o padre da Igreja foi bastante rude comigo, e eu nem sabia o motivo - hoje não o culpo tanto, eu até sabia que era sua característica. E isso me abriu a cabeça pra perceber: se o cara que deveria ser um representante da palavra de Deus na minha comunidade me tratava daquela maneira, como eu poderia confiar no que ele dizia? Não deveria ser palavras de amor e cuidado, além de cobranças e coerção?

Enfim, o tempo foi passando e acho que o ponto de maior afastamento da "Santa" Sé - e maior transformação em minha mentalidade - foi quando eu li Rousseau e, posteriormente, Sartre. Eu já possuia pensamentos utópicos (e não vejo o termo como pejorativo) sobre uma humanidade igualitária e feliz, e percebi que o existencialismo sartreano era um pensamento bastante coerente em si mesmo e, principalmente, em seu ateísmo. Então, desde a passagem do terceiro para o quarto período da faculdade - quando li O Existencialismo é um Humanismo, Entre Quatro Paredes e o começo da Crítica da Razão Dialética - eu comecei a me considerar ateu, sem ter maiores mágoas sobre isso. A Náusea, no final daquele ano, me abriu a mente para refletir sobre a miséria da existência, aliando-se as leituras prévias que eu tinha de Marx.

Dentro da faculdade, não quis entrar no Movimento Estudantil por alguns motivos. As pessoas que nele participavam pareciam mais preocupados em seguir a cartilha de algum partido do que atuar como uma instituição minimamente coerente. As vezes me pareciam se preocupar mais em defender um ideal do que lutar a favor das pessoas - não que seus ideais estivessem errados, mas suas intransigências teóricas me pareciam negar à priori qualquer tipo de diálogo com alguém que possuia críticas pontuais a todos aqueles partidos, como eu. Sendo assim, continuei com meu pensamento crítico da política, apoiava quando o Movimento pedia apoio (como em doações ou em diálogos em sala de aula), mas não quis fazer parte, pois imaginava que minha voz não seria ouvida lá dentro. Preferi concentrar meus esforços nos estudos.

Acho que muito do que me formou foram conversas com amigos e livros que li. Tenho pouca experiência na vida por ser jovem, e acho que tenho algum medo das pessoas desconsiderarem minhas opiniões por me acharem só um burguesinho da Barra da Tijuca (lugar que não gosto nem de morar e nem de seu conceito), que apesar de ter algum pensamento libertário, não compreende o que acontece no mundo de verdade. Talvez o meu maior argumento contra isso seja que eu reflita, critique e leia bastante (e mesmo assim, não acho o suficiente).

Reflita demais, talvez. Tenho um puta medo de ser incoerente, em algum ato, ou de ter alguma ação impensada que atinja a outro. Sei que não consigo pensar tudo da maneira que tenho convicção que é certa, mas a formação de nosso caráter e de nossas bases mentais é um processo, né? Nada nasce do nada. Tudo que somos, no momento, se faz, a partir de nossas escolhas, se desenvolvendo a longo prazo... Meu mestre do Karate, Sensei Marcos Cutrim, disse-me uma vez: "Bruno, você nunca deve se arrepender de nada. Mas tem que fazer tudo bem feito, para nunca ter de se arrepender". Se eu tenho algum lema da vida, é esse. Bato no peito e digo que possuo pouquíssimos arrependimentos, mas que todos os poucos que tenho torceram meus pulmões como panos enxarcados, cachoeirando lágrimas pelo meu rosto.

Emocionalmente, já tive momentos de extremo entreguismo emocional, seguido por um longo período de congelamento do miocárdio. Hoje, não vejo os dois como antítese: tenho uma tese de que pode-se ser calculista, refletindo sobre o que se faz e o que se toma, e amar ao mesmo tempo. Aliás, acho que esse deve ser o verdadeiro amor humano, aquele que inclui a emoção no todo que é amar, e não o que toma a emoção como o todo. Vejo que considerar amar só emoção é negar o outro lado. Amar é uma relação, não só entre emoções, mas entre pensamentos, comunicações, linguagens... cada relação amorosa é diferente em si, porque cada um é cada um! É respeito ao outro, antes de tudo. Desisti de procurar, como procurava antes de entrar na faculdade e em meus primeiros relacionamentos, um conceito universal para o amor. Um modelo. Talvez tenha sido a coisa mais importante que eu tenha mudado nesse meio-tempo.

Não crio nenhum mistério sobre mim, mas geralmente prefiro não me expor. Acho que produzir esse texto me fez refletir melhor sobre mim e sobre o que eu penso do mundo, pesar de ter tratado de um recorte tão pequeno do que um ser humano pode ser. Cogito nesse exato momento se devo publicá-lo ou não. Bem, vamos ver as repercussões como um teste de exposição. Acho que, no fim, vai servir pra eu ler esse texto daqui a alguns anos e ver no que mudei novamente :)

Beijos e abraços aos que tiveram saco de ler :)

domingo, 12 de setembro de 2010

PróximAmor

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

Nas madrugadas de sonho materializado,
Imagens encontradas na cama desfeita:
Erotiza nossas mentes sua luz
Que brilha nos meus olhos radiante.

Em cada centímetro sinto-lhe inteira,
Toco sua pele que é doce e lisa.
Movendo-te de maneira imprecisa;
Caótico deitar por sobre seu leite-leito.

Em cada palavra tua proferida
Não ouço juras ou promessas vazias:
Afogo-me em sentimento transbordando alegrias
Em que cada tom que seus labios poetizam...
(poetizam, também, em gemidos).

Solto em sua nuca, odor de rosas
Presos para sempre na memória.
Seus cabelos, castanhos chocolates
Esvoaçantes cheiros me afrodiziam.

Que paradoxo é sentir-te a língua!
Desliza em mim como bola de chiclete.
Degusto o passeio em sua pele, que é doce
Misturada ao seu salgado suor
(que também é doce)

Tornou-se, então, o longe aproximado,
Perante as luzes de todos os meus sentidos.
Não imagino mais uma projeção, não:
Agora sei que amo-te
Na completude inteira
De cada momento
Nosso.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Opinião: Sobre o povo e “seu” Estado

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

Algumas semanas atrás, estava eu e meus amigos estagiários do Colégio de Aplicação/UFRJ discutindo política, como geralmente fazemos quando não estamos corrigindo provas, assistindo aula ou lendo o magnífico jornal Meia-Hora. Eis que meu caro amigo Lucas Antunes, que diz ter uma posição política de centro (e não é umbandista e nem PMDBista), afirma uma parada que me deixou meio bolado: "a política só está assim porque o povo brasileiro é do jeito que é". Concordando com a afirmação de Lucas, minha outra companheira keynesiana Taís Brito repete as palavras da mãe: "Cada povo tem o governo que merece". Fui veementemente contra as duas inferências, levantando a bola: nós vivemos REALMENTE em um Estado Democrático?

Vou ser sincero e dizer que me assustei com tal posição vindo de exímios estudantes de História. Ué, com certeza eles sabem da herança política que o Brasil sofre desde os tempos de colonização. O que precisamos é relacioná-la a atual situação política brasileira. Não precisamos ir tão longe, visto que saímos a pouco de um golpe militar que continuamente levou a população a um afastamento da participação política (que tanto ocorria da década de 50 a meados da de 70). Alexis de Tocqueville diminuiu os efeitos a Revolução Francesa, falando que o resquício aristocrático do sistema feudal nunca deixaria a democracia surgir na França, e o lugar onde encontrou tal possibilidade foi nos recém-independentes (na época) Estados Unidos da América. Ele pode ter exagerado, mas que a história de um afastamento da população em relação ao poder leva a um empecilho sócio-político de uma efetiva atuação consciente dela sobre o Estado, ah, isso não deixa de ser verdade!

O povo brasileiro tem, sim, grande percepção política. Porém, sua percepção não é a mesma de uma classe média esclarecida (como a minha, a do Lucas ou da Taís). É só ter em vista suas necessidades específicas e o abandono pelas autoridades públicas, que só recorrem a elas para ser bucha de canhão ou massa de manobra para trampolim eleitoral. Aqui no Rio isso é claro, onde a ideologia da Casa Grande (ricaços de São Conrado) e Senzala (favela da Rocinha) se mantém de uma maneira, no mínimo, sinistra. O próprio sistema (“vai, Bruno, culpa o sistema!”) controla as variadas Senzalas do Brasil por meio de currais eleitorais, compra de votos, força da mídia (e essa talvez seja a mais importante) e promessas eleitoreiras populistas, mantendo as mesmas famílias no poder, na mais velha relação paternalista que tanto conhecemos.

Sem dúvida, também, não podemos nos esquecer que o Estado é uma luta por hegemonia (valeu, Gramsci!). Citá-lo como uma homogeneidade (apesar das ideias políticas estarem descarrilhando para um pragmatismo bem vergonhoso) é uma generalidade ainda muito forte. Ainda temos partidos que seguem, parcialmente, algum tipo de ideologia, mesmo que neo-liberais ou comunistas arcaicas. Mesmo assim, falar que todas as minorias e, principalmente, a maioria, tem sua representatividade lá no congresso é não observar o que rola de verdade, nesse mecanismo safado que tem coisas ótimas mas tem muitas coisas ruins.

Eu, como todo bom marxista, sigo acreditando que não há demo-cracia (sem alusão ao DEM, por favor!) se não houver igualdade social. Um pensamento um tanto quanto fora de moda, mas como não sou de subjulgar meus ideais para seguir tendências acadêmicas da crista da onda (perdoem-me os chartienianos!), não me preocupo. Afirmar que o governo é a cara de seu povo é afirmar que vivemos em uma democracia plena, onde as pessoas votam, em toda a sua autonomia político-social, em quem elas realmente acham melhores pro Brasil, é no mínimo esquecer de toda a história política que formou esse mosaico brasileiro. Em tempos que se mistura política, que desde o século III a.C. se relaciona com debate de ideias, com marketing pessoal, podemos falar em um governo efetivamente popular? Acho que não.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

DistantAmor

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

Olho-te como quem contempla
o encanto de encantar-se com a estética
da distância, ponte que nos liga;
da presença, aperto que nos afaga.

Ouço-te como quem concentra-se
Nos cantos dos pássaros livres:
De peito aberto, por quilômetros
Voam melodiando para o infinito.

Beijo-te como quem deplora
o vazio que nos separa;
Esperando o torpor-toque
do gosto salgado de tua pele.

Sinto-te como quem sonha
Relógios derretidos de Dali;
Angustiante descompasso
Não te alcançando em tempo-espaço.

Choro-te como quem espera
olhar, ouvir, beijar, sentir
Choro, também, em êxtase
Pelo abraço de acreditar nesse momento.

Enfim,
Quero em ti nossa completude
E acolhimento;
Amo-te como aquele que ama:
Eu, a ti.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A metáfora da distância entre palavra, sentimento e o ser amado

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

É possível fazer poesia sem metáforas? Porque chove, chove, chove, e eu só gostaria que você estivesse aqui. Meu sentimento e o clima devem possuir algum tipo de ligação, assim como sinto você como a lágrima que escorre pelo meu rosto e cai no mar do meu coração.

Olha a metáfora aí de novo. Mas há de ter alguma relação entre isso que sinto (turbilhões inexplicáveis) e que choro (por você não estar aqui) e que sorrio (só de pensar em você) com esse mar que recebe a chuva e se esconde na neblina. Bate nas pedras da minha existência para me fazer transformar essa distância em areia.

Em pó. Transformar em pó e sugar-te, em cada grão, como fonte de embriaguez. Mas ora, não representamos tudo por metáforas? Há outro jeito, se não fazer da poesia um grande teatro, uma grande máscara?

Não. Eu sinto esse desespero todo de tanto amar, sentir, chorar, sorrir... e não saber como expressar. Então, abraço a metáfora e seu jogo de iluminar obscurecendo, limitando meu peito em palavras para diminuir, um pouco, a angústia de não ter você aqui.

Esse vento gelado é, pra mim, a ponta dos seus cabelos me acariciando a face inchada pela distância, dando alguma esperança de romper as barreiras do coração, das palavras e do espaço.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Que as vuvuzelas soem livres! (mas com parcimônia)

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

No Twitter, outro dia, compararam a Copa do Mundo ao Big Brother Brasil, devido ao alcance da expressão e como as pessoas reproduzem o evento, ou o que significa na vida delas. A comparação é tão infrutífera quanto dizer que todos os garotos do mundo (excetuando-se, talvez, EUA, Venezuela e Caribe), há pelo menos 100 anos, participam de Reality Shows abertos em campos de terra, sem preocupação em ganhar dinheiro, com bolas de meia e chinelos para marcar suas eliminações individualistas.

Deixemos a comparação esdrúxula de lado e falemos, agora, do que é realmente importante. Hoje, vivendo uma constante virtualização (não só no sentido internestico) da identidade, juntar-se em torno de uma bandeira, seja ela de um time ou de uma nação, cria um laço de solidariedade entre aqueles que a fazem. E é isso que o futebol significa: um grande espetáculo de união.

Mas sua raiz não é um show. É uma brincadeira, é o lúdico, é a felicidade de poder abraçar os seus companheiros depois de ajudar a cumprir a sua meta. É abaixar a cabeça em vergonha quando o seu time leva um gol, devido a um pesado sentimento de responsabilidade, por ter sido você um dos causadores da derrota. É juntar-se aos seus amigos e sentir a mais pura catarse, ou seja, sentir o que o próprio jogador sente, ou deveria sentir: xingar os companheiros de time quando seu trabalho é mal executado e chorar de alegria, abraçando-se (seja em volta de uma churrasqueira, ao lado de um rádio de pilha ou dentro de um estádio, junto a 80 ou 80.000) com seus outros parceiros de sentimento.

A Copa do Mundo é o esplendor disso tudo, disso que começa com o brilho dos pobres e é deturpado por desejos monetários de poucos. Sim, homens são vendidos e têm seus destinos traçados por uma quantidade quase inexpressável de dinheiro. Sim, depois que eles envelhecem, se empobrecem, porque não têm a educação necessária para saber administrar a grana que recebem. Sim, movimenta a economia do mundo, mas não a parte que deveria movimentar e transformar.

Mas a Copa do Mundo é o sonho de crianças, tanto das ricas com jabulanis quanto das pobres, que não conseguem ver a educação atual como o caminho para a felicidade, e trocam as salas de aula pelo campinho de futebol e pela bola de R$9,90 comprada com o dinheiro da bala vendida no sinal. É o auge, é o horizonte de realização. É a vontade de defender o seu país, longe de colocar a sua vida e a vida dos outros em risco. Então, que somente por um mês, as vuvuzelas nos ensurdeçam nos estádios e nos jogos, que as pessoas não trabalhem e que o mundo pare, para isso: para manter o sonho vivo e o brilho nos olhos do mundo.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O mundo e raimundo

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

O mundo é muito vasto.
Vasto demais para um olhar,
um simples olhar observador.
Mesmo que eu me chamasse raimundo
a rima seria pobre, miserável como os raimundos, josés e joães
que malabarizam os sinais
da nossa Av. Brasil.

Se o olhar já me é limitado,
como transformar seria possível?

O mundo é muito vasto,
mas uma pessoa,
Ah, uma pessoa apenas...
Transformá-la seria já um universo
se ao deixar de ser raimundo
tornasse-se Raimundo.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Eternidade em Movimento

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

Um vagão de Metrô no Rio de Janeiro. Não tão cheio que não se podia se mexer, mas também não tão vazio que se pudesse sentar. Estava apoiado em frente a uma propaganda de um curso de inglês qualquer quando a vi entrando por uma das portas automáticas. Se colocou quase simetricamente a mim, apoiada na parede a minha frente.

Logo após encostar-se no vagão, colocou sua mochila no chão e abriu um grande livro que trazia junto ao peito, segurado pelos braços, e começou a ler. Eu, curioso leitor que sou, inclinei-me de tal maneira - que não sei se foi suficientemente discreta - para descobrir que obra ela estaria lendo. "Don Quijote de la Mancha", edição comemorativa dos 400 anos, em espanhol, provavelmente importado. Parte de seus cabelos castanho-claros, presos em um rabo de cavalo, pendia sobre seu ombro, vestido por uma blusa social branca. Seus óculos, de uma armação vermelha e discreta, me chamaram atenção.

Concentrada, permaneceu ali. As vezes, levantava a cabeça. Não me via. Percebi que minha estação estava próxima e que deveria saltar em breve. Deixei-a com o movimento do metrô, e imaginei que deveria eternizá-la. Tentei torná-la eterna em minha mente, porque sabia que a vida não faria isso por mim. Seus cabelos castanhos embranqueceriam, seus óculos seriam diferentes, ela leria outros livros - ainda assim, não creio que ela algum dia duvide da genialidade de Cervantes - e usaria outras blusas.

Mesmo eternizada, ela nunca será a mesma. Toda vez que olho para minha memória, ela está diferente. Hoje, penso que ela nem me percebeu. Em um dia mais otimista, talvez eu pense que ela tenha reparado um exemplar de "A Idade da Razão" que eu levava embaixo do braço - mesmo que eu, na hora, não estivesse com ele. Talvez ela tivesse olhos castanhos, verdes ou até pretos.

Enfim, hoje - como ao sair do metrô - penso que, se não posso eternizar nem a minha memória, não posso eternizar nada que faça sentido em si próprio. As minhas eternidades estarão sempre em um vagão de metrô, indo em direção a um túnel vazio, que apesar de sabermos onde acaba, nunca sabemos o que encontraremos dentro dele.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Quem estou eu?

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

Sou mais do que eu.
Sou o físico.
Sou o que falo, sou o que ouço.
Sou a tese, a contradição e a síntese.
Sou minhas experiências
e minhas possibilidades.

Sou a presença e a saudade.
(nos outros e em mim)
Sou responsabilidade.

Sou unidade e multiplicidade.
Sou prisão e liberdade.

Sou o que morre e o que fica.

Sou e não sou:
Estou.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O que não está no texto

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

O sorriso
não está no soneto.

A tristeza
não está no conto.

São apenas palavras,
Que identificamos
Porque lemos.
E todos entendem:
Como sorriso ou tristeza.

Todos?

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Trinta anos de morte para lembrar seus 75 anos de vida.

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

sartre

Descobri Jean-Paul Sartre quando tinha meus 18 anos. Comecei pelo seu texto mais didático, "O Existencialismo é um Humanismo", que explica superficialmente os principais conceitos da filosofia defendida por ele e por seus iguais. Depois dele, li vários outros livros dos existencialistas, principalmente de Sartre e Albert Camus, que me fizeram levantar e refletir sobre algumas questões - que, infelizmente não são mais postas - sobre a condição humana.

Primeiro, é importante dizer que não existe natureza humana e, para os existencialistas, não existe Deus. Sendo assim, a existência precede a essência. Ou seja, não somos nada antes de viver. Somos determinados pelas nossas experiências e pelas escolhas que fazemos a partir delas.

Somos livres, mas não em nossa totalidade. Os limites da liberdade são o que a faz real. Qualquer tipo de liberdade total só existe no campo  das idéias, não aqui embaixo. Porém, parece que, atualmente, nos prendemos a explicações que tiram de nós a RESPONSABILIDADE de sermos como somos, de escolhermos o que escolhemos. "Nasci assim", "isso é genético", "Deus escolheu", "a sociedade me condiciona totalmente" são frases criadas para eclipsar a liberdade do homem. O único limite da liberdade é ela própria: SEMPRE estamos escolhendo, condicionados pelas nossas experiências.

Responsabilidade. Outra palavra importante para os existencialistas e para Sartre. Em toda escolha que fazemos carregamos o peso de suas conseqüências como se escolhessemos para toda a humanidade. A verdadeira moral laica se baseia na hipótese mais simples: "e se todos, no meu lugar, fizessem como eu? Seria bom? Seria ruim?". Não existe uma bondade ou uma maldade anterior ao homem e não vamos para o céu ou para o inferno. O que existe são escolhas responsáveis, não por você, mas por toda a humanidade. As escolhas que não se enquadram nestas são feitas de má-fé. O individualismo latente de nossa sociedade atual parece lotar nossas escolhas de má-fé. Sabemos que é errado, mas fazemos assim mesmo, pois vamos nos dar bem. Sad, but true.

Enfim, acho que Jean Paul-Sartre, que completa hoje 30 anos da nadificação de seus sonhos, me formou éticamente, moralmente e filosoficamente. Sua perspectiva causa angústia devido a irreversibilidade do tempo: tudo que é escolhido, tudo que é feito, tudo que experienciamos... Nada volta atrás. Forma-me, também, como perspectiva de intelectual: aquele que luta, aquele que atua na sociedade, aquele que sabe o papel que tem frente às desigualdades do mundo. O intelectual atuante.

Poderia escrever mais milhões de parágrafos sobre o autor, mas fica aqui essa pequena homenagem e minha interpretação de seus escritos, com o desejo de que os leitores do blog também se interessem, tanto por sua filósofia quanto pelos seus romances. "A Idade da Razão" e "A Náusea" são ótimos para começar, além do já citado "O Existencialismo é um Humanismo".

E aos filhos de Sartre, como eu, um abraço especial.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Deposite sua sugestão na caixinha ao lado

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

pobres corações tristes
reclamam de tudo
pois sempre há algo a reclamar

reclamam do clima
reclamam do emprego
reclamam daquele professor filho da puta
(que passa trabalho pro dia de festa)
reclamam do amor
reclamam do ódio
reclamam da vida
reclamam da morte

reclamam, reclamam, reclamam

Não fazem nada a respeito.
Prendem-se em reclamar
e encher os outros com suas palavras vazias,
afogados em um conformismo de inanidade.

Quando forem velhos
Reclamarão de não terem feito tudo
de outro jeito.
E ainda reclamarão
uma
última
vez.

domingo, 11 de abril de 2010

O que deixa escapar o que contém

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

Vão aqui algumas reflexões avulsas... não existe, aqui, a necessidade de fazer um todo coerente e nem de dar uma conclusão sobre o assunto. Basta, somente, a reflexão, tanto minha quanto de quem lerá.

 

Esse ano, duas pessoas bastante distintas, sem qualquer relação direta entre elas (tirando o contato comigo), inferiram uma mesma questão a mim: "Bruno, você me acha fútil? Você não gosta de pessoas assim, fúteis, né?". Da primeira vez eu fiquei meio sem jeito de responder. Da segunda, com aproximadamente três meses intervalo para a primeira, eu estranhei.

 

Minha primeira reflexão é num campo mais mentalista: por que diabos me perguntavam aquilo? Minha opinião conta? Vai mudar alguma coisa minha opinião ser dada sobre um assunto tão pessoal quanto um estilo de vida? É claro que nada disso foi pensado por parte das pessoas que me interrogaram, e talvez esse tipo de pergunta seja mais por uma questão de insegurança do que por minha opinião em si.

 

O segundo ponto foi o valor dessa palavra: "fútil". Digo, é uma palavra de grande valor pejorativo, e acho que ninguém gostaria de ser chamado por ela. "Vai, me chama de fútil!". De acordo com o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, vai a definição:

1- que ou o que não tem importância ou mérito; inútil, superficial

2- que ou o que tem aspecto enganador, não inspira confiança, não tem constância; frívolo, leviano <atitudes, gestos>

3- que não tem valor; insignificante <pretextos, razões>

4- que naõ tem fundamento, profundidade; tolo, pueril <não conseguiu amadurecer seu projeto, acabou descartando-o por>

Etimologia: do latim futilis: que deixa escapar o que contém, indiscreto, sem autoridade, leviano, frívolo.

 

Ou seja, toda a definição aponta para a importância e a profundidade de algum gesto, razão, palavra, enfim, ato humano. Creio que, no "popular" (apesar de não ser uma palavra tão popular assim - whatever), relaciona-se àquela pessoa consumista que só pensa na aparência e nas coisas passageiras da vida. Descartam uma busca por conhecimentos mais teóricos e considerados intelectualizados (provavelmente mais no campo da Filosofia, Artes, História, Política), que seriam assuntos realmente "importantes" e "profundos" para um indivíduo não ser taxado como fútil.

 

Tudo isso aqui não é uma dúvida pessoal no sentido direto (creio que posso ser prepotente e pouco-humilde aqui e confirmar que não sou fútil), mas sim no sentido indireto: qual é a autoridade de alguém para definir o que é fútil? Se, hipotéticamente, eu confirmasse, ou seja, falasse "SIM, você É fútil!" - não que realmente elas sejam - eu estaria afirmando que não gosto de garotas que se arrumam e pensam na roupa que estão usando? Estaria mentindo, afinal, valorizo que as pessoas pensem em sua beleza. O que eu não gosto é que tornem isso um fanatismo.

 

O problema todo está aí: em colocar a aparência ACIMA de tudo. Cria-se máscaras, e viver de máscaras é viver no vazio. O vazio nos consome, e a máscara cai, uma hora ou outra. Por isso, não acho que seja uma preocupação válida. O importante é viver a vida sinceramente, fazendo o que acha que é certo, sem tentar prejudicar ninguém – a grande dificuldade dos fúteis, pois precisam do seu ego massageado para sustentar esse tipo de existência.

quarta-feira, 31 de março de 2010

A foto que nos rasga.

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

O grande problema de tirar fotos é que parece que o tempo não foi feito pra isso (se é que ele foi realmente feito pra alguma coisa). Temos nossa memória, e ela se esvai por algum motivo especial para nós. Pra mim, a grande beleza da fotografia é essa: transformar em eterno o que seria esquecido.

 

Eu tenho fotos no computador de épocas que me machucam lembrar. Digo, talvez eu não esteja vendo tudo isso pelo lado certo (se é que ele existe), e também não quero esquecer o que aconteceu no meu passado, por razão de amadurecimento. A questão é que a memória de um momento trás, como que acorrentadas, diversas outras memórias, de uma maneira extremamente caótica e de dificil controle.

 

“Olha, essa foto! Nós estávamos sorrindo e felizes, andando pela cidade… Ah, essa época era boa… mas… o que aconteceu depois? Será que ela saiu com fulano e me traiu, como eu achava na época? Será que ciclano realmente ligou para a briga que desmanchou nossa amizade ou não tinha a mesma importância pra ele? Minha vida era tão diferente anter de ter acontecido aquele fato. Como eu consegui ser tão babaca?”

 

Aí você pode chegar pra mim e falar: “Bruno, é só deletar as fotos e ser feliz!”. Eu não quero deletá-las. Acho apagar, destruir, qualquer que seja a coisa, um ato de violência muito grande contra nossa possível vontade de rever tudo com outros olhos no futuro, quando já houver superado, e dizer “Putz, como eu cheguei a pensar isso?”.

 

Drummond Paulo Roberto Gaefke (obrigado pela correção, Dehynha ;D), desculpe-me, mas tenho que ir contra sua faxina na alma. Tudo que nos prende ao passado só é visto dessa maneira que você combate por causa do nosso presente. Nossas experiências talvez sejam a única coisa nossa, e só nossa. Várias pessoas, em diferentes épocas da vida, podem olhar para uma mesma foto de maneiras diferentes. Talvez a melhor maneira de lidar com o negativismo do passado é superando e encontrando a importância do momento para a nossa vida. Assim, aquela foto, daquela pessoa, daquele momento, daquele sorriso que depois virou lágrima, daquela careta que gerou briga… ganhará um brilho diferente. Entraremos, enfim, em harmonia com o nosso passado.

segunda-feira, 22 de março de 2010

As duas faces do mesmo sistema

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

30 de março de 2008. Uma menina de apenas cinco anos é arremessada do sexto andar de um prédio localizado em um bairro de classe média em São Paulo. A rede de contenção presente na janela do apartamento estava rasgada. O próprio pai da criança e sua madrasta foram acusados do crime.

14 de março de 2010. Um menino de apenas catorze anos assassina o pai a facadas em Sarandi, município pobre de Maringá. Em sua defesa, o garoto alega que não se arrepende do que fez, pois seu pai batia recorrentemente em sua mãe e levava prostitutas para casa onde moravam.

22 de março de 2010. Todos acompanham o julgamento do Caso Isabella Nardoni por vários meios da mídia (virtual, impressa e televisiva), comentado por especialistas, jornalistas, palpiteiros e lotado de juízos de valor.
O garoto foi publicamente julgado por José Luiz Datena em seu programa, na Rede Bandeirantes, e não se sabe (por meio virtual) o que acontecerá com o rapaz e quantos anos de internação terá o menor.

14 de julho de 1789. O povo francês se revolta em Paris e toma a Bastilha, momento inaugural simbólico da Revolução Francesa. Pela primeira vez o regime de privilégios econômico-jurídicos da nobreza é abolido, fundando a base da democracia na França e influenciando o resto do mundo. Seus principais ideais eram de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Último soneto a Helena

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

Saiba, pois, que ainda sonho em ti,
Memória caótica, conturbada;
Sussurro da felicidade passada
e de toda a angústia que eu senti.

 

Sinto, então, um absoluto nada:
Apenas lembranças do que vivi ali
na sombra da cama compartilhada:
todas as vezes que, em ti, chorei e ri.

 

Lembra-te, no fim, de mim, Helena,
Pois aprende-se muito no recordar
O que o presente não te ensina!

 

E quando no leito final descansar
Lembra-te quem se perdeu nas entrelinhas
Do labirinto aflito de te amar!

domingo, 7 de março de 2010

O que eu penso sobre: Oscar

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

Fala gente! Seguinte: há muito tempo não tenho estado no feeling de escrever prosas poéticas. Por isso resolvi colocar aqui no blog também alguns textos de opinião. Peço que comentem o que pensam, quero que seja um espaço aberto para o diálogo! Devo postar algumas vezes por dia no twitter, não muitas… por isso, não me chamem de chato! Começarei, com o embalo da noite de hoje, falando sobre o que todos estão falando: Oscar.

O Oscar é uma festa linda. Todas as celebridades, adoradas pelo mundo, juntam-se para serem recompensadas pelo seu árduo esforço de trazer a sétima arte com maior qualidade para os espectadores mundiais. Fiz questão de não acompanhar tal festividade no atual ano de 2010.

É de se saber o papel político importante do cinema no século XX, propagando-se pelo século XXI. Longe de mim querer parecer paranóico e ser um daqueles que vê ideologia em tudo, porém existem filmes em que se pode reparar claramente uma posição política arbitrária por parte do produtor. Não me aprofundarei nisso, mas é importante que seja um ponto de reflexão.

Além disso, pode ser observada a clássica diferença entre showbiz e showart. A escolha do Oscar, na maioria das vezes, é levada pelo showbiz. Por que? Porque a Indústria Cultural (abençoado, ou não, seja Theodor Adorno) tem a necessidade de rankear os melhores para manter o espírito competitivo (reflexo do sistema? Pode ser que sim). E, é claro, a velha questão do marketing e da propaganda. O Oscar passou a ser um "mecanismo" de manutenção das produções que se afiliam (politica e, por que não, economicamente?) a tal "Academia", que não é, e nunca será, NEUTRA ideologica e politicamente falando. São pessoas que falam de um lugar, de um tempo, e suas opiniões são inseridas em um contexto. Não digo nem da mentalidade predominante nos Estados Unidos, mas sim um pensamento globalizado e multicultural (absorvido pelo sistema), devido à proporção que ganhou tal "festa".

É claro que a coisa não é TÃO descarada assim, afinal, eles, os jurados da Academia, não podem considerar todos que assistem cinema um bando de imbecis (por mais que, muitas vezes, parecem pensar assim). Certos filmes, como Uma Mente Brilhante e Quem quer ser um milionário? aparecem como grandes exemplos de como filmes cults, com roteiros que poderiam aparecer somente nas margens da grande mídia cinematográfica, tiveram diretores, produtores e roteiristas que souberam jogar o jogo da tal Academia.

Quem quer ser um milionário?reflexo da Índia destacando-se na política internacional

Enfim, meu principal ponto é que tal sistema produtivo cinematográfico PRECISA de premiações e "melhores", para mostrar que existem piores. Eu sou uma pessoa que - além de ter uma fraca cultura de filmes (admito) - evita fazer rankings, porque uma relação comparativa é, grande parte das vezes, cruel (talvez seja rastro de minha formação de professor). Toma-se o Oscar como um padrão de qualidade, quando vários filmes poderiam estar lá e não estão, por escolha arbitrária.

E, que fique claro, para que não haja mal-entendimento: isso não é uma crítica aos atores e artistas que lutam para melhorar suas atuações e são recompensados (justamente ou injustamente) por tal rankeação. É uma análise do sistema no qual o Oscar se inclui e se destaca, que eu vejo mais como um propagador de um discurso dominante do que um modificador dele.