domingo, 24 de outubro de 2010

Perto das eleições, evidências afloram.

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

Vemos, no discurso marco-político brasileiro, a queda das ideologias. A defesa dos partidos como unidade de ideias coerentes, propostas para um bom governo interessado no bem comum, esvaziou-se para engrandecer o personalista palavreado apelativo pautado em denuncias e demagogias eleitoreiras.

A luta pela verdadeira transformação da realidade brasileira não tem lugar: o que se observa é cada vez mais uma tentativa conciliatória de práticas essencialmente contraditórias. É impossível haver Reforma Agrária se não houver expropriação. É impossível dar habitação para todos os cidadãos  se a atenção continuar centrada em aparências. É impossível dar bem-estar para a população se o Estado se nega a tomar conta das atividades dominadas pelo poder privado, onde o lucro cega a responsabilidade social - exemplo: setor de transportes.

O pragmatismo político leva a isso: valorização de algumas instituições que, ao melhor estilo maquiavélico, manterão as mesmas caras incapazes de atacar as causas no poder, lidando com efeitos para fins eleitoreiros. A ideologia tornou-se um martelo que bate forte sobre uma mesa plana: pode até fazer barulho, mas a cabeça dos pregos já estão batidas. Enquanto isso, as causas, intrinsicamente negativas (desigualdade, falta de educação, saúde e habitação) encontram novos efeitos, que mantém a dominação de antes.

Esta é a nossa aleijada democracia, onde poucos ainda cabrestam muitos e nossos representantes precisam esquivar de balões d'água e bolinhas de papel (ou pedir para que taquem mais). A "governabilidade" molda as ações e alianças de indivíduos que possivelmente têm o interesse de mudar algo. Infelizmente, mudam de maneira incrédula e superficial. O outro lado, dos que são claramente contra o povo, aplaude tais apoios, em seu íntimo político, mas apontam publicamente como corruptos, para parecer mais idônio, sempre pessoalmente, nunca ideologicamente (até porque, suas ideologias, se considerarmos alguma existência, não se sustentam com facilidade). Que suas consciências passem a pagar o preço, porque a população já paga há muito tempo.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Algumas confissões que não faço questão de esconder

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

Desde que eu entrei na faculdade de História, mudei muito. Em março de 2006, na calourada da minha turma, eu tinha acabado de sair da Crisma e já tinha críticas à Igreja como instituição. Entrava nas missas com a camisa do album Temple of Shadows do Angra. Escrevia poemas em decassílabos perfeitos e rimas pretensamente ricas falando sobre morte e amores, muito influenciado pelas minhas repetidas leituras de Álvares de Azevedo (não gostava de Augusto dos Anjos, o niilismo dele me dava nojo). Comecei a me afastar assim que o padre da Igreja foi bastante rude comigo, e eu nem sabia o motivo - hoje não o culpo tanto, eu até sabia que era sua característica. E isso me abriu a cabeça pra perceber: se o cara que deveria ser um representante da palavra de Deus na minha comunidade me tratava daquela maneira, como eu poderia confiar no que ele dizia? Não deveria ser palavras de amor e cuidado, além de cobranças e coerção?

Enfim, o tempo foi passando e acho que o ponto de maior afastamento da "Santa" Sé - e maior transformação em minha mentalidade - foi quando eu li Rousseau e, posteriormente, Sartre. Eu já possuia pensamentos utópicos (e não vejo o termo como pejorativo) sobre uma humanidade igualitária e feliz, e percebi que o existencialismo sartreano era um pensamento bastante coerente em si mesmo e, principalmente, em seu ateísmo. Então, desde a passagem do terceiro para o quarto período da faculdade - quando li O Existencialismo é um Humanismo, Entre Quatro Paredes e o começo da Crítica da Razão Dialética - eu comecei a me considerar ateu, sem ter maiores mágoas sobre isso. A Náusea, no final daquele ano, me abriu a mente para refletir sobre a miséria da existência, aliando-se as leituras prévias que eu tinha de Marx.

Dentro da faculdade, não quis entrar no Movimento Estudantil por alguns motivos. As pessoas que nele participavam pareciam mais preocupados em seguir a cartilha de algum partido do que atuar como uma instituição minimamente coerente. As vezes me pareciam se preocupar mais em defender um ideal do que lutar a favor das pessoas - não que seus ideais estivessem errados, mas suas intransigências teóricas me pareciam negar à priori qualquer tipo de diálogo com alguém que possuia críticas pontuais a todos aqueles partidos, como eu. Sendo assim, continuei com meu pensamento crítico da política, apoiava quando o Movimento pedia apoio (como em doações ou em diálogos em sala de aula), mas não quis fazer parte, pois imaginava que minha voz não seria ouvida lá dentro. Preferi concentrar meus esforços nos estudos.

Acho que muito do que me formou foram conversas com amigos e livros que li. Tenho pouca experiência na vida por ser jovem, e acho que tenho algum medo das pessoas desconsiderarem minhas opiniões por me acharem só um burguesinho da Barra da Tijuca (lugar que não gosto nem de morar e nem de seu conceito), que apesar de ter algum pensamento libertário, não compreende o que acontece no mundo de verdade. Talvez o meu maior argumento contra isso seja que eu reflita, critique e leia bastante (e mesmo assim, não acho o suficiente).

Reflita demais, talvez. Tenho um puta medo de ser incoerente, em algum ato, ou de ter alguma ação impensada que atinja a outro. Sei que não consigo pensar tudo da maneira que tenho convicção que é certa, mas a formação de nosso caráter e de nossas bases mentais é um processo, né? Nada nasce do nada. Tudo que somos, no momento, se faz, a partir de nossas escolhas, se desenvolvendo a longo prazo... Meu mestre do Karate, Sensei Marcos Cutrim, disse-me uma vez: "Bruno, você nunca deve se arrepender de nada. Mas tem que fazer tudo bem feito, para nunca ter de se arrepender". Se eu tenho algum lema da vida, é esse. Bato no peito e digo que possuo pouquíssimos arrependimentos, mas que todos os poucos que tenho torceram meus pulmões como panos enxarcados, cachoeirando lágrimas pelo meu rosto.

Emocionalmente, já tive momentos de extremo entreguismo emocional, seguido por um longo período de congelamento do miocárdio. Hoje, não vejo os dois como antítese: tenho uma tese de que pode-se ser calculista, refletindo sobre o que se faz e o que se toma, e amar ao mesmo tempo. Aliás, acho que esse deve ser o verdadeiro amor humano, aquele que inclui a emoção no todo que é amar, e não o que toma a emoção como o todo. Vejo que considerar amar só emoção é negar o outro lado. Amar é uma relação, não só entre emoções, mas entre pensamentos, comunicações, linguagens... cada relação amorosa é diferente em si, porque cada um é cada um! É respeito ao outro, antes de tudo. Desisti de procurar, como procurava antes de entrar na faculdade e em meus primeiros relacionamentos, um conceito universal para o amor. Um modelo. Talvez tenha sido a coisa mais importante que eu tenha mudado nesse meio-tempo.

Não crio nenhum mistério sobre mim, mas geralmente prefiro não me expor. Acho que produzir esse texto me fez refletir melhor sobre mim e sobre o que eu penso do mundo, pesar de ter tratado de um recorte tão pequeno do que um ser humano pode ser. Cogito nesse exato momento se devo publicá-lo ou não. Bem, vamos ver as repercussões como um teste de exposição. Acho que, no fim, vai servir pra eu ler esse texto daqui a alguns anos e ver no que mudei novamente :)

Beijos e abraços aos que tiveram saco de ler :)