sábado, 26 de abril de 2008

Grito

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Subiu degrau por degrau para o terraço daquele prédio de quinze andares. A cada degrau, alternava entre inspiração e expiração. De fato, precisava estar inspirado para fazer o que queria fazer.

Chegou ao topo e olhou para o céu. Algumas núvens roxas pinceladas, mas as estrelas brilhavam como se estivessem milhões de anos luz mais próximos. Não, provavelmente era só aquele prédio a menos de distância mesmo. Mas elas o maravilhavam, e mesmo a lua tímida e minguante no canto de sua visão não prendeu sua atenção. Provavelmente se ele estivesse apaixonado prestaria mais atenção à Mulher da Noite Prateada que a cada mês brilha mais forte, mas não naquele dia.

Enquanto caminhava a passos curtos por aquele chão acima do nível do mar em direção ao abismo, observava as luzes lá embaixo. Daqui de cima parece tudo tão bonito. Pena que lá embaixo tudo é diferente. É sufocante, claustrofóbico, os brilhos que parecem tão belos na verdade me cegam. Não existe outro caminho.

Até que chegou à borda daquele mundo que pertencia naquele momento. Olhou em volta e nenhum som realmente chegava aos seus ouvidos, apenas ecos da vida lá embaixo, como memórias que atormentavam sua mente cansada. Realmente, aquilo parecia bonito, mas era o inferno para ele. Fechou os olhos e respirou fundo.

Ao abrir, olhou para cima e soltou o maior grito que poderia sair daquele corpo. O som ecoava nas estrelas enquanto, por sua boca aberta, seus pulmões de um azul celeste saiam. Ele foi se tornando luz no mesmo momento que de suas costas asas, brancas como sua alma, explodiam suas costas em busca de liberdade. Seu coração brilhava mais vermelho que nunca, e seu grito continuava entoando a mais bela canção libertadora para ele em toda a sua vida.

Antes do grito terminar realmente, ele apagou e desapareceu. Chegou ao extremo de ter de sumir para chegar à liberdade, visto que nem em um caixão se sentiria livre. Sua existência se foi, mas eu ainda ouço os ecos de sua voz a noite, que viaja pelas estrelas, me puxando para fazer o mesmo que ele um dia. Simplesmente gritar, sumir, e ser livre.
sexta-feira, 4 de abril de 2008

Vamos falar de política? Parte 2.

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A percepção política popular e a construção da democracia

Na última eleição para Presidente da República aqui no Brasil houve um discurso muito expressivo na mídia sobre o nível social das pessoas que votaram em cada um dos candidatos na segunda fase. Claramente, esse discurso era depreciativo no que diz respeito ao vencedor, Lula, por este ter sido eleito pelas camadas baixas da população, chegando a ser exibido em rede nacional um mapa com as regiões do Brasil que o elegeram e as que tiveram maioria de votos em Alckimin. Isso dá brecha para vários outros discursos tipicamente elitistas Brasil afora.

Um desses discursos é o da falta de educação da maior parte da população para votar. Ora, é fato que não é só a educação que faz a eleição se concretizar e o melhor ou pior candidato ser eleito ou não. Certamente, a maior parte da população votou em Lula por uma questão de identificação não só com a imagem construída de "homem do povo", como também em relação aos próprios focos de atuação que o candidato, depois Presidente, supostamente basearia seu governo.

Dizer que o "povo brasileiro é burro e não sabe votar" é tentar defender abertamente uma inexistência de percepção política da população. Toda a população, a partir de sua classe social, tem idéia do que é melhor para si. É claro que o Sul e Sudeste do Brasil teriam maior votação em Alckimin (tirando o Rio de Janeiro, que sempre teve formação mais esquerdista que as outras metrópoles). São as regiões mais desenvolvidas e com o maior número de burgueses que não se atraem por essa visão de "governo para o povo", que o exato contrário são as políticas do PSDB de privatizações e concessões ao grande capital especulativo dos empresários brasileiros e do exterior.

Um grande exemplo dessa diferença de percepção é o governo do Brizola aqui no Rio. Enquanto a classe média e alta falam que o governo foi fraco e que não mudou nada, a classe baixa agradece: Brizola distribuiu posses de terra nas favelas, levou água encanada para muitas comunidades carentes, defendeu o pobre em muitas situações. Deixo bem claro que não sou Brizolista, mas achei um bom exemplo para servir como argumento.

Claro, o povo elegeu o Clodovil e vários outros candidatos inúteis para o Brasil. Mas quem disse que essa população teve tempo para aprender a votar? Ainda serão eleitos mais 10 Clodovis até a democracia se concretizar como um bom sistema de eleição - e realmente é o melhor até agora. O maior exemplo dessa inexperiência ao votar é uma pessoa que nasceu na década de 50, por exemplo. Só foi votar aos 40 anos de idade, devido ao monstruoso Regime Militar aí no meio do caminho. Não se pode comparar a democracia brasileira de 19 anos com a democracia francesa de 200. Lá eles já têm noção dos candidatos que farão mal a sua sociedade, aqui a população vai aprender, com o tempo, que Clodovil não vai levar a absolutamente nada.

Por último, é necessário salientar que a democracia não é feita somente através do voto. Existem várias outras maneiras de expressar sua cidadania, uma delas é discutindo política nos seus diversos ambientes do dia-a-dia - que, pode-se até negar, mas todos são espaços para política, pois em todos existe interação social. Pode-se também se filiar a movimentos sociais, sindicatos, instituições políticas e etc. O voto é importante, sim, mas não é a única arma para fazer nosso país melhorar.
terça-feira, 1 de abril de 2008

Vamos falar de política?

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Introdução

Tolo é aquele que diz que "Religião e política não se discute". Tudo é discutível, contanto que as partes da discussão sejam razoáveis e racionais a ponto de entender quando seu argumento é colocado por terra. Percebe-se certa intolerância política nos debates ideológicos travados nos meios virtuais e no próprio meio estudantil. Ninguém quer ceder.

Argumentos toscos são utilizados quando eu cito que sou socialista: "Ah, mas o socialismo nunca vai acontecer", "cara, se enxerga, o socialismo não deu certo", "que coisa ultrapassada e hipócrita!"... não se aprofundam à uma argumentação plausível e baseada em críticas aos conceitos diretos da minha posição política.

Há pouco tempo me entreguei a uma reflexão sobre a diferenciação de discussão política para a discussão sobre a corrupção. De fato, estão inteiramente entrelaçadas as duas, mas tratam de matérias totalmente diferentes. Uma coisa é discutir a idéia daquele determinado político ou daquela instituição, a outra é saber a idoneidade desse indíviduo ou dessa corporação.

A discussão de idéias e a difusão delas é a que leva à um desenvolvimento da democracia. Basear-se somente em quanto o candidato é ladrão ou não sempre pode ser levado à manipulações e interesses facilmente construídos.

Claro, a discussão sobre a corrupção é MUITO necessária, e deve ser MUITO combatida, porém a democracia não é baseada nisso, como a mídia sensacionalista e elitista de nosso país cisma em tentar frizar.

Abro aqui nesse blog um espaço livre para discussão de política, contanto que com argumentos plausíveis e desenvolvidos.

No próximo post vou falar sobre a participação e percepção popular na política do Brasil, a idéia de que o "povo não sabe votar" e o desenvolvimento da democracia.