sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Amo - Vladimir Maiakovski

Posted in , , by Bruno Marconi da Costa | Edit
Amo
A Lila Brik

Comumente é assim

Cada um ao nascer
traz sua dose de amor,
mas os empregos,
dinheiro,
tudo isso,
nos resseca o solo do coração.
Sobre o coração levamos o corpo,
sobre o corpo a camisa,
mas isto é pouco.
Alguém
imbecilmente
inventou os punhos
e sobre os peitos
fez correr o amido de engomar.
Quando velhos se arrependem.
A mulher se pinta.
homem faz ginástica
pelo sistema Muller.
Mas é tarde.
A pele enche-se de rugas.
amor floresce, floresce,
e depois desfolha.

Garoto

Fui agraciado com o amor sem limites.
Mas, quando garoto,
a gente preocupada trabalhava
eu escapava
para as margens do rio Rion
e vagava sem fazer nada.
Aborrecia-se minha mãe:
"Garoto danado!"
Meu pai me ameaçava com o cinturão.
Mas eu,
com três rublos falsos,
jogava com os soldados sob os muros.
Sem o peso da camisa,
sem o peso das botas,
de costas ou de barriga no chão,
torrava-me ao sol de Kutaís
até sentir pontadas no coração.
O sol se assombrava:
"Daquele tamaninho
com um tal coração!
Vai partir-lhe a espinha!
Como, será que cabem
nesse tico de gente
rio,
o coração,
eu
e cem quilômetros de montanhas?"

Adolescente

A juventude tem mil ocupações.
Estudamos gramática até ficar zonzos.
A mim
me expulsaram do quinto ano
e fui entupir os cárceres de Moscou.
Em nosso pequeno mundo caseiro
brotam pelos divãs
poetas de melenas fartas.
Que esperar desses líricos bichanos?
Eu, no entanto,
aprendi a amar no cárcere.
Que vale comparado com isto
a tristeza do bosque de Boulogne?
Que valem comparados com isto
suspiros ante a paisagem do mar?
Eu, pois,
me enamorei da janelinha da cela 103
da "oficina das pompas fúnebres".
Há gente que vê o sol todos os dias
e se enche de presunção.
"Não valem muito esses raiozinhos"
dizem.
Eu, então,
por um raiozinho de sol amarelo
dançando em minha parede
teria dado todo um mundo.

Minha universidade

Conheceis o francês,
sabeis dividir,
multiplicar,
declinar com perfeição.
Pois, declinai!
Mas sabeis por acaso
cantar em dueto com os edifícios?
Entendeis por acaso
a linguagem dos bondes?
O pintainho humano
mal abandona a casca
atraca-se aos livros
a respmas de cadernos.
Eu aprendi o alfabeto nos letreiros
folheando páginas de estanho e ferro.
Os professores tomam a terra
e a descarnam
e a descascam
para afinal ensinar:
"Toda ela não passa dum globinho!"
Eu com os costados aprendi geografia.
Não foi a toa que tanto dormi no chão.
Os historiadores levantavam a angustiante questão:
- Era ou não roxa a barba de Barba Roxa?
Que me importa!
Não costumo remexer o pó dessas velharias!
Mas das ruas de Moscou
conheço todas as histórias.
Uma vez instruídos,
há os que se propõem
a agradar às damas,
fazendo soar no crânio suas poucas idéias,
como pobres moedas numa caixa de pau.
Eu, somente com os edifícios, conversava.
Somente os canos d'água me respondiam.
Os tetos como orelhas espichando
suas lucarnas atentas
aguardavam as palavras
que eu lhes deitaria.
Depois
noite adentro
uns com os outros
palravam
girando suas línguas de catavento.

Adultos
Os adultos fazem negócios.
Têm rublos nos bolsos.
Quer amor? Pois não!
Ei-lo por cem rublos!
E eu, sem casa e sem teto,
com as mãos metidas nos bolsos rasgados,
vagava assombrado.
À noite
vestis os melhores trajes
e ides descansar sobre viúvas ou casadas.
A mim
Moscou me sufocava de abraços
com seus infinitos anéis de praças.
Nos corações, nos relógios
bate o pêndulo dos amantes.
Como se exaltam as duplas no leito de amor!
Eu, que sou a Praça da Paixão,
surpreendo o pulsar selvagem
do coração das capitais.
Desabotoado, o coração quase de fora,
abria-me ao sol e aos jatos d'água.
Entrai com vossas paixões!

Galgai-me com vossos amores!
Doravante não sou mais dono de meu coração!
Nos demais - eu sei,
qualquer um o sabe -
o coração tem domicílio
no peito.
Comigo
a anatomia ficou louca.
Sou todo coração -
em todas as partes palpita.
Oh! quantas são as primaveras
em vinte anos acesas nesta fornalha!
Uma tal carga
acumulada
torna-se simplesmente insuportável.
Insuportável
não para o verso
deveras.

O que aconteceu

Mais do que é permitido,
mais do que é preciso,
como um delírio de poeta
sobrecarregando o sonho:
a pelota do coração tornou-se enorme,
enorme o amor,
enorme o ódio.
Sob o fardo,
as pernas vão vacilantes.
Tu o sabes,
sou bem fornido,
entretanto me arrasto,
apêndice do coração,
vergando as espáduas gigantes.
Encho-me dum leite de versos
e, sem poder transbordar,
encho-me mais e mais.

Clamo

Levantei-o como um atleta,
levei-o como um acrobata,
como se levam os candidatos ao comício,
como nas aldeias se toca a rebate
nos dias de incêndio.
Clamava:
"Aqui está, aqui! Tomai-o!"
Quando este corpanzil se punha a uivar,
as donas
disparando
pelo pó, pelo barro ou pela neve,
como um foguete fugiam de mim.
- "Para nós, algo um tanto menor,
algo assim como um tango ..."
Não posso levá-lo
carrego meu fardo.
Quero arremessá-lo fora
sei, não o farei.
Os arcos de minhas costelas não resistem.
Sob a pressão
range a caixa torácica.

Tu

Entraste.
A sério, olhaste
a estatura,
o bramido
e simplesmente adivinhaste:
uma criança.
Tomaste,
arrancaste-me o coração
simplesmente foste com ele jogar
como uma menina com sua bola.
E todas,
como se vissem um milagre,
senhoras e senhoritas exlamaram:
- A esse amá-lo?
Se se atira em cima,
derruba a gente!
Ela, com certeza, é domadora!
Por certo, saiu duma jaula!
E eu de júbilo
esqueci o jugo.
Louco de alegria
saltava
como em casamento de índio,
tão leve,
tão bem me sentia.

Impossível

Sozinho não posso
carregar um piano
menos ainda um cofre-forte.
Como poderia então
retomar de ti meu coração
carregá-lo de volta?
Os banqueiros dizem com razão:
"Quando nos faltam bolsos,
nós que somos muitíssimos ricos,
guardamos o dinheiro no banco".
Em ti
depositei meu amor,
tesouro encerrado em caixa de ferro,
ando por aí
como um Creso contente.
É natural, pois,
quando me dá vontade,
que eu retire um sorriso,
a metade de um sorriso
ou menos até
indo com as donas
eu gaste depois da meia-noite
uns quantos rublos de lirismo à toa.

O que aconteceu comigo

As esquadras acodem ao porto.
O trem corre para as estações.
Eu, mais depressa ainda,
Vou a ti,
atraído, arrebatado,
pois que te amo.
Assim se apeia
o avarento cavaleiro de Púchkin,
alergre por encafuar-se em seu sótão,
assim eu
regresso a ti, amada,
com o coração encantado de mim.
Ficais contentes de retornar à casa.
Ali vos livrais da sujeira,
raspando-vos, lavando-vos,
fazendo a barba.
Assim retorno eu a ti.
Por acaso,
indo a ti não volto à minha casa?
Gente terrena ao seio da terra volta.
Sempre volvemos à nossa meta final.
Assim eu,
em tua direção sempre me inclino
apenas nos separamos
mal acabamos de nos ver.

Dedução

Não acabarão com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.

(Vladimir Maiakovski, 1922)
sábado, 19 de setembro de 2009

Soneto

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

Incandescente lua no horizonte,
Ouça meu pedido entristecido,
Que clamo pelos ares, estarrecido,
Com lágrimas que me limpam a fronte.

 

Se esse desejo fosse falecido
Tal saudade, que minh'alma confronte:
Viveria, pois, ausente da fonte
Das dores que havia adquirido.

 

A lua não responde meu chamado,
Deixando-me na vida solitário
Calando meu coração torturado.

 

Entrego-me, então, ao meu calvário
Grito o que não havia gritado:
Presença sua é todo o necessário.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Quando penso em você…

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

Suspiro em cor de rosa,
Ouço o cair das pétalas de rosa
na relva,
Choro lágrimas de luz.

 

Sorrio a lua,
Arrepio o sol,
Bombeia o coração sangue por ti,
Para onde não devia ir.

 

Saudades do antes, durante e depois
Do momento que os olhos entrepôs
Entre nós dois.

 

Abraço a noite e deixo o dia livre,
Livre como o azul de meio-dia
E como a memória do desejo de te ter de volta.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Meus 20 anos.

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

Casimiro de Abreu escreveu um de seus maiores poemas relembrando sua infância. “Meus oito anos”, de fato, é uma bela poesia, organizada em rimas e versos. Eu, com meus vinte, já não tenho inspiração suficiente para me dedicar à uma poesia de tal porte que escrevia aos meus dezesseis ou dezessete, talvez pelo fato de certo utopismo e sentimentalismo ter ficado para trás, ainda que não o amor por tal arte.

 

Falar de nossa situação atual de maneira realística é difícil. O primeiro ponto que acho interessante analizar é que quando era adolescente – dezesseis ou dezessete anos – eu queria ter a liberdade de vinte para fazer as coisas que desejava. A diferença é que agora, com vinte, apesar de realmente ter a liberdade para fazê-las, não desejo mais as mesmas coisas que quando tinha aquela idade. Perdi um pouco do projeto que tinha na adolescência para mim, porém criei outros, talvez mais pés-no-chão.

 

Minha situação como sujeito social se diferenciou. Antes, sentia a necessidade de participar do mundo, mas ainda me sentia marginalizado. Hoje, vejo que sou peça importante, assim como todos os outros, no jogo político em seus diversos níveis. Porém, apesar da importância, vem também a impotência. Para que mais tarde os leitores de meus livros historiográficos ou opiniões políticas não reclamem de um suposto “recalque” para com a juventude: ele existe hoje, já enquanto faço parte dela. A juventude de classe média-instruída que percebo a minha volta é fútil, incapaz de se preocupar com a sociedade e desinteressada aos problemas que os cercam, pensando apenas em seus ipods, roupas de marca e carência afetiva vazia. Gostaria eu que os jovens pelo menos fizessem seu papel de estudantes com algum interesse social, mas nem isso. Poucos estudam de verdade, e quando estudam pensam apenas no próprio umbigo. 68, onde fostes parar?

 

Saindo da esfera política, entrando na esfera emocional. De fato, minha idéia de amor mudou bastante de quatro anos pra cá. Talvez exatamente por minhas aproximações amorosas, devido à inexperiência e falta de maturidade em tal período, terem sido praticamente traumáticas, hoje eu as evito e quase não as tenho. Sorrio ao congelamento de meu coração como aqueles que corriam aos seus grilhões pensando que era a liberdade. Se prendiam, certamente, mas nos grilhões encontravam, pelo menos, proteção e calma para poder se revolucionar e alcançar uma liberdade plena. Hoje penso que a possibilidade de amar não é, por si só, libertação: muitas vezes é se prender à circunstâncias destrutivas onde, por motivos morais, sociais e específicos, acaba sendo pior que a cadeia: se torna escravidão.

 

Me tornei seletivo inclusive com amizades. Antes eu era cercado por vários amigos confiáveis, que foram sendo filtrados não pela matiz da confiança, mas sim pela questão de alinhamento subjetivo – muitos não pensavam, de fato, como eu, e a convivência se tornava insuportável. Hoje tenho apenas poucos e bons, por assim dizer. Não me arrependo: felizmente, meus amigos são fiéis, maduros e sinceros comigo.

 

Sobre minha família, não tenho o que reclamar. Apoiam-me e me guiam pela minha vida, e sempre estão presentes quando preciso.

 

Finalmente, tenho um trabalho. Não é o que se pode dizer que seja um grande trabalho, que se ganha muito, mas é importante subjetivamente para mim. Além do desenvolvimento profissional, tenho contato com pessoas totalmente diferentes de mim – dou aula num curso Pré-Vestibular Social – que eu tenho a felicidade de ajudar e crescer pessoalmente, a partir de novas experiências.

 

A sensação de estar “se tornando gente” é intensa em cada segundo da minha vida. Os estudos e o trabalho, em sua intensidade, me consomem e me jogam uma responsabilidade nas costas que as vezes não sei se consigo aguentar. O amor “erótico”, por si só, deixou de ser amor e se tornou, praticamente, somente luxúria, visto que existe, por opção, um bloqueio para uma imersão numa situação de entrega profunda. Digamos que não sei nadar.

 

Talvez agora, finalmente, seja a hora de ler com atenção o Livro Dois da “Lira dos Vinte Anos”. Há anos atrás, só conseguia ler o Livro Um e o Três, que são de poesias amorosas e utópicas. Agora, meu filho, a realidade se insere na minha vida como fator pulsante e principal, que tenho que lidar a cada momento de maneira ativa, pois se não for assim, me sinto inerte e inútil, para mim e para todos em volta. Cabe a mim fazer o que minha geração não costuma praticar: estudar e tentar entender o mundo, para, pelo menos, tentar transformá-lo, além de me negar a participar dele vivendo em meu umbigo particular – coisa que seria INFINITAMENTE mais fácil. Mas o caminho mais fácil é sempre o pior, e essa classe-média-tola ainda não aprendeu isso. Então, se querem continuar nos seus mundinhos, gastem milhões em ipods e leiam bastante Veja. Eles são imparciais. Para um lado, pelo menos.

domingo, 26 de abril de 2009

Albert Camus fala do amor-ausente numa cidade fechada pela peste

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

      “Afinal, para falarmos mais expressamente dos amantes – são os de maior interesse e deles o narrador está talvez mais habilitado a falar –, esses encontravam-se ainda atormentados por outras angústias, dentre as quais é preciso assinalar o remorso. Essa situação, na verdade, permitia-lhes analisar o seu sentimento com uma espécie de objetividade febril. E era raro que nessas ocasiões suas próprias fraquezas não lhes aparecessem mais claramente. A primeira ocasião que encontravam para isso estava na dificuldade que tinham em imaginar com precisão os atos e os gestos do ausente. Lamentavam o desconhecimento de como empregava o seu tempo, acusavam-se de seu descuido em informar-se disso e de como haviam fingido acreditar que, para um ser que ama, o emprego do tempo do ser amado não é a fonte de todas as alegrias. Era-lhes fácil, a partir desse momento, recordar o seu amor e examinar-lhe as imperfeições. Em épocas normais, sabíamos todos, conscientemente ou não, que não há amor que não se possa superar e aceitávamos no entanto, com maior ou menor tranquilidade, que o nosso permanecesse medíocre. Mas a recordação é mais exigente. E, muito logicamente, essa desgraça que nos vinha do exterior e que atingia toda uma cidade não nos trazia apenas um sofrimento injusto com que teríamos podido indignar-nos; levava-nos a incitar mais sofrimento em nós mesmos, fazendo-nos, assim, consentir na dor. Essa era uma das maneiras que a doença tinha de desviar a atenção e de baralhar as cartas.”

[…]

     “Entretanto e o mais importante é que, por mais dolorosas que fossem essas angústias, por mais pesado que estivesse esse coração, apesar do vazio, pode-se dizer efetivamente que esses exilados, na primeira fase da peste, foram privilegiados. Na verdade, no próprio momento em que a população começava a aflingir-se, o pensamento deles estava inteiramente voltado para o ser que esperavam. No desespero geral, o egoísmo do amor preservava-os, e, se pensavam na peste, era apenas na medida em que ela trazia à sua separação o risco de se tornar eterna. Tinham, no meio da epidemia, uma distração salutar que se era tentado a considerar como sangue-frio. O desespero salvava-os do pânico, havia algo bom na sua desgraça. Por exemplo, se acontecia que um deles fosse levado pela doença, era quase sempre sem que tivesse tido tempo de se precaver contra isso. Arrancado a essa longa conversa interior que mantinha com uma sombra, era então lançado, sem transição, para o mais espesso silêncio da terra. Não tivera tempo para nada.”

CAMUS, Albert. A Peste.

     Ao ler essa parte do livro, veio-me imediatamente o seguinte pensamento: “É necessário estar exilado no meio de uma peste bulbônica para sentir isso?”. A resposta chegou imediatamente, trotando.

     De fato, a ausência traduz impacientemente um desejo de imaginação, e muitas vezes cai-se na armadilha de saciá-lo. E cria-se hipóteses, imagina-se, percebe-se míseros detalhes não percebidos anteriormente, quando o amor ainda era amor-em-presença. Essa “objetividade febril” domina, quase que inconscientemente, o tempo de ócio e, em um certo momento, surge o estalo gritando que perde-se tempo demais torturando-se em imagens teóricas praticamente impossíveis de serem comprovadas empiricamente. Percebe-se que o tempo empregado na distante pessoa amada é inútil e sacrificante.

     Quando esse estalo ocorre, o amor-em-ausência vai embora. E com ele o próprio sentimento de ausência. Liberta-se do ócio e dos grilhões do sofrimento. O ócio-destrutivo se auto-destrói, e somos, enfim, livres (pelo menos nesse contexto).

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Last

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit
Ela me apareceu de repente, com um ar de desprotegida e abandonada. A vi como um pequeno gato, com belos olhos e jeito meigo, enroscando em minha perna na rua. Um ser que eu precisava cuidar com todo carinho, afeição, sorrisos, abraços, passeios... Kundera usaria outra metáfora, talvez: a de um bebê que chega num cesto pelo rio. E esse encontro me encantou.

E com esse encanto reconceituei o que eu pensava sobre o amor. Daquele amor distante, intocável e cruel ao coração, tornou-se o Amor de querer bem. De cuidar, de desejar a felicidade do outro acima da sua própria. E por muito tempo a amei, e talvez a tenha amado como nunca amara ninguém antes.

Um adendo paralelo ao assunto: talvez para as pessoas que achem o ser humano naturalmente individualista, o Amor seja um milagre divino, inexplicável pela razão. Eu prefiro pensar da maneira contrária: que o ser humano só pode viver junto de outros seres humanos, e que o Amor é normal e natural. E eu prefiro MUITO que seja assim.

Retomando:

Escolha após escolha, cenário após cenário, circunstâncias após circunstâncias, tudo foi mudando. Aos pouquinhos, assim, a cada momento o relacionamento mudava de caminho, chegando a ter rupturas bruscas, desculpas esfarrapadas e perdões destituídos de sentido. Parecia, mesmo assim, que o amor não era posto a prova.

Enfim, tornou-se clara a última escolha do nosso casal. Ela escolheu seguir com as próprias pernas, e eu escolhi respeitar a escolha dela. Não que eu tenha sido as pernas dela por todo o tempo que ela surgiu na minha vida, mas eu sempre me vi, creio que não erroneamente, como uma pessoa que ela sempre podia contar e que sempre, pelo menos, TENTAVA dar uma base de compreensão da vida com mais sorrisos e cores, com mais belezas e flores.

Creio que, no fim, eu fiz certo. De fato, não podemos apoiar a nossa vida em ninguém, no sentido de precisar desse alguém para viver. Apesar da grande vontade que sinto as vezes, chorar turbilhões de indisposições para a vida seria hipocrisia sobre o que eu mesmo falava a ela. O querer-bem está sempre relacionado ao outro, e nunca uma necessidade egoísta de manter esse outro amarrado a algemas ao seu pulso.

E, mesmo com todos os problemas que afloraram...

...

O que eu mais quero é que ela esteja bem, seja lá onde for.
domingo, 8 de fevereiro de 2009

Você

Posted in , , , by Bruno Marconi da Costa | Edit

Você é assim: superior e incomparável ao indiscritível brilhar de cada dia, que, como meu amor por você, o Sol ilumina de manhã e a Lua ilumina a noite. Você se envolve em desnecessárias preocupações e buscas de sentidos que acha que, quando encontrar, lhe acalmará a alma, mas não percebe que não vale a pena a caminhada.


Você sorri como um rio que contorna uma montanha por não conseguir passar por dentro dela, mas mesmo assim segue seu curso. Sorrisos raros em quantidade, e toda vez que os liberta de seu pulmão, uma vontade - que me degrada o ser - de retirá-lo de sua face e deixá-lo rindo só para mim, colado no teto do meu quarto, me domina por dentro.


Penso, sinto melhor, e vejo que seu sorriso nunca pode ser retirado do seu conjunto, pois é VOCÊ que o faz sorrir, e que me faz querer sorrir colado a ele. Separado, seria apenas mais um fragmento. Uma pétala de rosa longe de sua flor original.


E você é a rosa. "Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho e há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!", já diria um dos maiores. Todos temos espinhos, e você tem vários. Mas sua flor é tão volumosa e cheia de vida que seria no mínimo burrice não segurar com toda a força na haste, para lhe cheirar mais forte o perfume que me alegra a vida.


Então, sorria mais, pois saiba que lhe guardo entre as maiores riquezas que se encontram em minha essência e existência.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Diferença entre "gosto" e "opinião".

Posted in , , , , by Bruno Marconi da Costa | Edit
De vez em quando me pego pensando sobre a questão do gosto de cada um: como existem gostos tão diferentes e como as pessoas cismam em tentar usar argumentos para justificá-los. Eu mesmo já caí e caio constantemente nessa situação (http://brunomarconiblog.blogspot.com/2008/12/o-porqu-de-sentenced-ser-minha-banda.html) que, na verdade, não sei se é errada ou não. Pretendo chegar a alguma conclusão ao final deste texto.

Não tenho conhecimentos aprofundados em psicologia para afirmar qualquer coisa sobre como o gosto vem a nós, ou como nós vamos ao gosto. Imagino eu que seja algo que guardamos inconscientemente na memória talvez na infância, essa época obscura de nossa vida, onde não sabemos exatamente o que nos influencia ou não. O que acontece é que esse gosto é obtido através da experiência individual, do que você absorve e sente durante uma série de eventos e fenômenos que acabamos por durante toda nossa existência. Não creio que seja preciso dar argumentos sobre os seus gostos, sejam eles musicais, de literatura, de pintura, programa de televisão ou de escola de cinema.

As opiniões, por outro lado, devem ser cuidadosamente escolhidas e raciocinadas. Podemos gostar muito da pintura de um artista, porém não compartilhar da mesma opinião e ponto de vista que aquele próprio artista mostra em sua obra. A opinião deve ser racional, pois é o que vamos defender no andar da vida e será sempre pedida pelas pessoas à sua volta. Já o gosto, não. É algo pessoal, mesmo que influenciado, sempre, por critérios externos.

Opinião e gosto se tocam e se transformam no contato, óbvio, mas é preciso diferenciar os dois claramente. Você pode gostar de 50 Cent e não concordar com espancamento de mulheres ou o sexismo, por exemplo. Creio que essa racionalização dos gostos se dá devido ao grande cientificismo da sociedade atualmente: tudo tem que ser explicado, argumentado, se não você está ERRADO, sendo que certo e errado não são entidades que existem previamente à própria sociedade.

Por isso, se você quiser gostar de funk, rap, emo, metal, rock'n roll, romantismo, renascimento, Big Brother, Faustão, filmes cult ou não, não tem necessidade de se explicar para ninguém. Só tome cuidado ao tomar a opinião dos criadores de tais objetos, pois essas opiniões compartilhadas sim, você tem a maior responsabilidade e vai responder por elas no futuro.