quarta-feira, 31 de março de 2010

A foto que nos rasga.

Posted in by Bruno Marconi da Costa | Edit

O grande problema de tirar fotos é que parece que o tempo não foi feito pra isso (se é que ele foi realmente feito pra alguma coisa). Temos nossa memória, e ela se esvai por algum motivo especial para nós. Pra mim, a grande beleza da fotografia é essa: transformar em eterno o que seria esquecido.

 

Eu tenho fotos no computador de épocas que me machucam lembrar. Digo, talvez eu não esteja vendo tudo isso pelo lado certo (se é que ele existe), e também não quero esquecer o que aconteceu no meu passado, por razão de amadurecimento. A questão é que a memória de um momento trás, como que acorrentadas, diversas outras memórias, de uma maneira extremamente caótica e de dificil controle.

 

“Olha, essa foto! Nós estávamos sorrindo e felizes, andando pela cidade… Ah, essa época era boa… mas… o que aconteceu depois? Será que ela saiu com fulano e me traiu, como eu achava na época? Será que ciclano realmente ligou para a briga que desmanchou nossa amizade ou não tinha a mesma importância pra ele? Minha vida era tão diferente anter de ter acontecido aquele fato. Como eu consegui ser tão babaca?”

 

Aí você pode chegar pra mim e falar: “Bruno, é só deletar as fotos e ser feliz!”. Eu não quero deletá-las. Acho apagar, destruir, qualquer que seja a coisa, um ato de violência muito grande contra nossa possível vontade de rever tudo com outros olhos no futuro, quando já houver superado, e dizer “Putz, como eu cheguei a pensar isso?”.

 

Drummond Paulo Roberto Gaefke (obrigado pela correção, Dehynha ;D), desculpe-me, mas tenho que ir contra sua faxina na alma. Tudo que nos prende ao passado só é visto dessa maneira que você combate por causa do nosso presente. Nossas experiências talvez sejam a única coisa nossa, e só nossa. Várias pessoas, em diferentes épocas da vida, podem olhar para uma mesma foto de maneiras diferentes. Talvez a melhor maneira de lidar com o negativismo do passado é superando e encontrando a importância do momento para a nossa vida. Assim, aquela foto, daquela pessoa, daquele momento, daquele sorriso que depois virou lágrima, daquela careta que gerou briga… ganhará um brilho diferente. Entraremos, enfim, em harmonia com o nosso passado.

segunda-feira, 22 de março de 2010

As duas faces do mesmo sistema

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30 de março de 2008. Uma menina de apenas cinco anos é arremessada do sexto andar de um prédio localizado em um bairro de classe média em São Paulo. A rede de contenção presente na janela do apartamento estava rasgada. O próprio pai da criança e sua madrasta foram acusados do crime.

14 de março de 2010. Um menino de apenas catorze anos assassina o pai a facadas em Sarandi, município pobre de Maringá. Em sua defesa, o garoto alega que não se arrepende do que fez, pois seu pai batia recorrentemente em sua mãe e levava prostitutas para casa onde moravam.

22 de março de 2010. Todos acompanham o julgamento do Caso Isabella Nardoni por vários meios da mídia (virtual, impressa e televisiva), comentado por especialistas, jornalistas, palpiteiros e lotado de juízos de valor.
O garoto foi publicamente julgado por José Luiz Datena em seu programa, na Rede Bandeirantes, e não se sabe (por meio virtual) o que acontecerá com o rapaz e quantos anos de internação terá o menor.

14 de julho de 1789. O povo francês se revolta em Paris e toma a Bastilha, momento inaugural simbólico da Revolução Francesa. Pela primeira vez o regime de privilégios econômico-jurídicos da nobreza é abolido, fundando a base da democracia na França e influenciando o resto do mundo. Seus principais ideais eram de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Último soneto a Helena

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Saiba, pois, que ainda sonho em ti,
Memória caótica, conturbada;
Sussurro da felicidade passada
e de toda a angústia que eu senti.

 

Sinto, então, um absoluto nada:
Apenas lembranças do que vivi ali
na sombra da cama compartilhada:
todas as vezes que, em ti, chorei e ri.

 

Lembra-te, no fim, de mim, Helena,
Pois aprende-se muito no recordar
O que o presente não te ensina!

 

E quando no leito final descansar
Lembra-te quem se perdeu nas entrelinhas
Do labirinto aflito de te amar!

domingo, 7 de março de 2010

O que eu penso sobre: Oscar

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Fala gente! Seguinte: há muito tempo não tenho estado no feeling de escrever prosas poéticas. Por isso resolvi colocar aqui no blog também alguns textos de opinião. Peço que comentem o que pensam, quero que seja um espaço aberto para o diálogo! Devo postar algumas vezes por dia no twitter, não muitas… por isso, não me chamem de chato! Começarei, com o embalo da noite de hoje, falando sobre o que todos estão falando: Oscar.

O Oscar é uma festa linda. Todas as celebridades, adoradas pelo mundo, juntam-se para serem recompensadas pelo seu árduo esforço de trazer a sétima arte com maior qualidade para os espectadores mundiais. Fiz questão de não acompanhar tal festividade no atual ano de 2010.

É de se saber o papel político importante do cinema no século XX, propagando-se pelo século XXI. Longe de mim querer parecer paranóico e ser um daqueles que vê ideologia em tudo, porém existem filmes em que se pode reparar claramente uma posição política arbitrária por parte do produtor. Não me aprofundarei nisso, mas é importante que seja um ponto de reflexão.

Além disso, pode ser observada a clássica diferença entre showbiz e showart. A escolha do Oscar, na maioria das vezes, é levada pelo showbiz. Por que? Porque a Indústria Cultural (abençoado, ou não, seja Theodor Adorno) tem a necessidade de rankear os melhores para manter o espírito competitivo (reflexo do sistema? Pode ser que sim). E, é claro, a velha questão do marketing e da propaganda. O Oscar passou a ser um "mecanismo" de manutenção das produções que se afiliam (politica e, por que não, economicamente?) a tal "Academia", que não é, e nunca será, NEUTRA ideologica e politicamente falando. São pessoas que falam de um lugar, de um tempo, e suas opiniões são inseridas em um contexto. Não digo nem da mentalidade predominante nos Estados Unidos, mas sim um pensamento globalizado e multicultural (absorvido pelo sistema), devido à proporção que ganhou tal "festa".

É claro que a coisa não é TÃO descarada assim, afinal, eles, os jurados da Academia, não podem considerar todos que assistem cinema um bando de imbecis (por mais que, muitas vezes, parecem pensar assim). Certos filmes, como Uma Mente Brilhante e Quem quer ser um milionário? aparecem como grandes exemplos de como filmes cults, com roteiros que poderiam aparecer somente nas margens da grande mídia cinematográfica, tiveram diretores, produtores e roteiristas que souberam jogar o jogo da tal Academia.

Quem quer ser um milionário?reflexo da Índia destacando-se na política internacional

Enfim, meu principal ponto é que tal sistema produtivo cinematográfico PRECISA de premiações e "melhores", para mostrar que existem piores. Eu sou uma pessoa que - além de ter uma fraca cultura de filmes (admito) - evita fazer rankings, porque uma relação comparativa é, grande parte das vezes, cruel (talvez seja rastro de minha formação de professor). Toma-se o Oscar como um padrão de qualidade, quando vários filmes poderiam estar lá e não estão, por escolha arbitrária.

E, que fique claro, para que não haja mal-entendimento: isso não é uma crítica aos atores e artistas que lutam para melhorar suas atuações e são recompensados (justamente ou injustamente) por tal rankeação. É uma análise do sistema no qual o Oscar se inclui e se destaca, que eu vejo mais como um propagador de um discurso dominante do que um modificador dele.