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"Trabalhadores do mundo tudo: UNI-VOS!"
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Manual prático para ser c00l - Volume 1
- Use um número x de piercings, sendo que 1 < x < 5: Furar um pouco o corpo é c00l
- Use alargadores. Ter um buraco de 1cm na orelha é c00l.
- Tenha uma ou duas pequenas tatuagens. Não ter coragem para ter uma super-tatuagem que você sempre sonhou é c00l.
- Seja vegetariano. Respeitar os animais é c00l.
- Ouça Paramore. Bandinha meio-punk, com um instumental meio-legal e uma garota que canta meio-bem é c00l.
- Veja Gray's Anatomy e Dr. House. Acompanhar seriados médicos é c00l.
- Leia Crepúsculo. Gostar de livros para meninas de 13-17 anos é c00l.
- Finja ser old school. Mostrar pra todo mundo que gosta dos Beatles e do The Who mas que não conhece os nomes dos albuns é c00l.
- Tenha um blog/fotolog e faça posts que nem você entende. Ser um mistério até pra si mesmo é c00l.
- Vire as fotos de lado e de cabeça pra baixo. Fazer as pessoas que vêem seu album no orkut aprenderem contorcionismo é c00l.
- Use o mínimo de emoticons possíveis. Parecer sério é c00l.
- Use efeitos de cutout e preto-e-branco do photoshop de maneira abusiva. Não ter fotos naturais é c00l.
- Tenha um album no orkut só de piadinhas e coisinhas engraçadas. Parecer engraçado é c00l.
- Apague seus scraps e deixe somente o favoritos. Fingir que sua vida interessa aos outros é c00l.
- Não anote. Anotar não é c00l. (Nem Mallandro). (http://wagnerebeethoven.blogspot.com/2008/08/pizzicato-polca.html)
- Reclame de tudo. Pagar de incompreendido é c00l.
- Seja radical. Não admitir meio-termo é c00l.
- Para as meninas: Use camisas com algo escrito na altura do peito. Achar que os homens estão realmente olhando para eles é c00l.
É isso aí galera, mais para frente outros posts para pessoas que querem ser c00ls ;D
Hermeneutica
O porquê de Sentenced ser minha banda preferida
Sentenced é minha banda preferida. Vide meu last.fm (http://www.last.fm/user/BrunoKarameikos). Vou explicar nesse post os motivos para eu gostar tanto dessa banda finlandesa que foi enterrada viva em 5/10/2005. E, deixando bem claro, gosto a partir da entrada de Ville Laihiala nos vocais da banda: do CD Down até o Funeral Album.
Musicalmente falando, a banda me agradou bastante os ouvidos. Sim, pois eu comecei a ouvir Heavy Metal há uns anos atrás, e sempre caí mais pro lado do Metal Melódico. E enjoei, como muitos haviam me advertido que iria, de bandas com vocalistas que cortavam os testículos para chegar a notas agudíssimas, solos rápidos simplesmente para serem rápidos e letras do tipo "sou épico, mato dragões e converso com anões". Também nunca me agradou muito as musicas massantes do Prog Metal, com longo solos virtuosos em tempos mais quebrados que os vasos que Chapolim esbarra todas as tardes.
Me encontrei no Gothic Metal finlandês, principalmente os com vocal masculino, pois não tem firulas sem deixar de ter certo requinte. Sentenced, ao ouvir, percebe-se que o vocal de Laihiala é com emoção mas sem apelar para técnicas agudíssimas para "se mostrar". É um vocal rasgado e, bem, de homem. Combina com o que a banda quer passar.
Mas o que mais me importa em citar aqui no blog são as letras do Sentenced e como me identifiquei TANTO com elas. Para um ouvido distraído, parece que as letras falam simplesmente sobre morte, suicídio, melancolia e etc. Mas, de uma maneira geral, são muito mais poéticas e filosóficas que qualquer outra banda de Gothic que se encontra nos ouvidos de muita gente.
Vou citar alguns exemplos aqui.
Dead Moon Rising, (http://letras.terra.com.br/sentenced/82820/) do album Crimson, trata do cair da noite e da interação do eu-lírico com o fim do dia, sendo este seu próprio fim. Enquanto a Lua ascende aos céus, o homem desce à terra. "Porra Bruno, toda banda de Gothic" fala disso. Mas essa letra trata do assunto de uma maneira especial, com um lirismo diferente e profundo, tirando o tema do clichê. Pela primeira estrofe já se percebe isto. Atente a idéia da noite saindo de uma concha e imagine a imagem.
The darkness comes out of her shell…
Yet another cold night in Hell with all the pain
The dying light is losing its glow
And my last glimmer of hope now fades away
Brief is the Light, (http://letras.terra.com.br/sentenced/115488/) do album The Cold White Light, fala da efemeridade da vida e da incompreensão por parte do ser humano da passagem do tempo. Por isso, mostra um carpe diem, pois nossa vida é uma luz breve e devemos aproveitar o maximo de cada dia, pois podemos ser o próximo na fila do tempo para apagar esta luz.
Hear these words I say:
- Make the most out of your day
for brief is the light on our way
on this momentary trail.
Hear these words, awake:
- Make the most out of your day
for brief is the time, so brief is the time
that we're allowed to stay.
Life passes by, melts away like snow in the spring.
We all are blind to the running of time.
Blood and Tears, (http://letras.terra.com.br/sentenced/115499/) também do The Cold White Light, fala da capacidade humana para superar nossas vidas, sempre cheias de problemas. De alguma maneira, a cada "chute da vida", voltamos rastejando para continuar vivendo, para levar outro chute. Mas mesmo assim, insistimos. Vivemos. Não desistimos. Mesmo entre sangue e lágrimas. Sofrimento e tristeza, encontrando sentido para as coisas que nos valem, nem que seja somente momentâneo.
What is it that we’re waiting for?
Looking forward to, preparing for?
Like kicks us in the teeth
Yet something makes us crawl back for more...
Blood and tears upon the altars of our lives we shed
Blood and tears until the sweet release we share in death
Hours like days, weeks feel like years
Decades of Tears
Yet somehow everything seems so worthwhile
For a moment... For a moment...
A música mais filosófica do Sentenced é também do The Cold White Light, e fecha o referido album. Ela é a No One There. (http://letras.terra.com.br/sentenced/114882/) A música, pra mim, é uma das melhores composições do rock, tanto o instrumental quanto a letra. Tratando aqui da letra, a música fala da proximidade da morte. Do que se pensa quando se vê que a morte está chegando e do outro lado não existe nada. A letra toda é uma pérola, uma preciosidade incomparável. Desespero, angústia, tristeza... perceber que somos apenas um com nossa morte, e morreremos sempre sozinhos. Ninguém pode morrer por nós nem conosco, e que não tem ninguém depois da luz. Apesar de ser, para mim, um grande sofrimento tentar reunir aqui alguma parte da letra, vou fazê-lo para manter a forma do post.
When the wind blows through my heart
Shivers me one last time
As I now reach out in the dark
No one there
Why did it have to be so hard
For us to live our lives
Again I reach out in the dark in despair
Your love for me, my love for you
Things we somehow managed to lose
Now there's only the ruthless wind
To blow right through
If freezes my heart, my desperate
To think we both will die alone
E, finalmente, a música que melhor explica o conceito e o caminho da vida, para mim, é a We are but falling leaves, (http://letras.terra.com.br/sentenced/206529/) do The Funeral Album. Somos um caminho para a morte, seja lá qual escolhemos. Somos raios de luz, que viajamos até chegar ao chão. Mas o que mais me toca é a ultima frase da música, que mostra o aprendizado pelo contraste (comparando o que é com o que não é, lado a lado) no maior exemplo para qualquer indivíduo: "Just when we realize that we are alive, we die"
At life's eve our flames will cease
Eternally, unavoidably
Eventually all paths will lead
To the cemetery
We are but falling leaves in the air hovering down
On our way we are spinning around
Scattered fragments of time
Like beams of the light we are
That's all we are
Enfim, não que seja necessário dar motivos para um gosto musical ou seja la qual, mas estes são os fatores que me tocaram em relação ao Sentenced, dando atenção especial às letras. São letras filosóficas, de um cunho um tanto humanista, ainda que melancólicas. Se eu fosse postar ainda as sensacionais letras sarcásticas e as belas letras de amor do Sentenced, esse post ia ser maior ainda.
Fica para o próximo.
Words of 5am
Even if the life is going well, there is something in the other side. I remember now the times we used to take the streets together, raining and running across every alley we knew so well.
Hand in hand, sometimes searching for shelter from the rain, sometimes stoping in the middle of the street to share some heat with a burning kiss. I ran to leave you home without worry about the future.
But now you're gone. And senseless, reasonless, you're not here, not even talking or smiling. I felt this way exactly once, before, but what hurts is that I don't have a clue of what is really happining.
Maybe all this feeling of emptiness that you left inside me can be told by only one word. What was it, anyway? Ah!... The word is saudade.
O Livro dos Abraços - Eduardo Galeano
De vez em quando abro o arquivo do livro que baixei para ler algum pequeno trecho. O Livro dos Abraços é fácil de ler assim, de maneira descompromissada. Me parece que o autor de Veias Abertas da América Latina - um clássico da historiografia jornalística - fez o livro para ser lido dessa maneira mesmo: sem ordem, aos pouquinhos. São memórias, ou melhor, recordações, que o autor logo define no começo do livro: "Recordar, do latim re-cordis: tornar a passar pelo coração."
O Livro dos Abraços é o livro que eu gostaria de escrever. Ele é coberto de lirismo do começo ao fim, mas composto densamente também de críticas sociais e políticas, principalmente às ditaduras latinoamericanas, pois nenhum bom marxista pode se deixar levar completamente por ilusões fenomenológicas de nossos próprios sentimentos sobre o mundo, esquecendo das injustiças, repressões, torturas e lutas por uma vida melhor. Então, em pequenos trechos, Eduardo Galeano conta pequenas histórias. Interessantes são, entre os outros, os que têm o título de "dizem as paredes", em que Galeano mostra alguns escritos em muros das cidades da América Latina que visitou.
O livro do uruguaio fala de tudo - que me interesso - um pouco: mundo, liberdade, clausura, Estado, cidades da América Latina, sonhos, realidade, voz humana, amor, noite, História, ditaduras... Enfim, tudo isso de uma maneira bem fácil de ler. Minha primeira impressão foi de que esse livro era direcionado à crianças: literatura infantil. Ao continuar lendo, percebi que não. Adultos têm muito o que aprender lendo essa obra.
Pra mim, que estou andando naquela estrada reta e sem transformações, esperando pelo futuro a cada dia que passa, o livro me encantou. Me encantei com uma obra de 1991 de um autor que deveria ser mais lido pela juventude. Aliás, os grandes jornalistas, historiadores, filósofos, enfim, pensadores da década de 60 e 70 deveriam ser mais lidos pelos que se acham jovens, como foram lidos pelos que se achavam jovens dessa época. Parece que a década de 80, por causa da redemocratização, a década de 90 por causa do aumento do "conforto" para as classes médias e a década de 2000 por causa da Internet fez com que os jovens se desprendessem e não ligassem para a realidade a sua volta, se preocupando com assuntos supérfluos e virtuais.
Acho que um dia todos nós deveríamos escrever um Livro dos Abraços, principalmente quando abraçamos a nossa vida e nosso passado, seja ele turbulento e triste ou de sucessos e amores, mas todos cheios de História.
P.S.: Estou esperando chegar esse livro pela Livraria da Travessa. Sim, o comprei, e está bem barato.
O Abalo dos Muros - Frei Betto
O apocalipse ideológico no Leste europeu, jamais previsto por qualquer analista, fortaleceu a idéia de que fora do capitalismo não há salvação. Agora, a crise do sistema financeiro derruba o dogma da imaculada concepção do livre mercado como única panacéia para o bom andamento da economia.
Ainda não é o fim do capitalismo, mas talvez seja a agonia do caráter neoliberal que hipertrofiou o sistema financeiro. Acumular fortunas tornou-se mais importante que produzir bens e serviços. A bolha especulativa inflou e, súbito, estourou.
Repete-se, contudo, a velha receita: após privatizar os ganhos, o sistema socializa os prejuízos. Desmorona a cantilena do "menos Estado e mais iniciativa privada". Na hora da crise, apela-se ao Estado como bóia de salvamento na forma de US$ 700 bilhões (5% do PIB dos EUA ou o custo de todo o petróleo consumido em um ano naquele país) a serem injetados para anabolizar o sistema financeiro.
O programa Bolsa Fartura de Bush reúne quantia suficiente para erradicar a fome no mundo. Mas quem se preocupa com os pobres? Devido ao aumento dos preços dos alimentos, nos últimos dozes meses o número de famintos crônicos subiu de 854 milhões para 950 milhões, segundo Jacques Diouf, diretor-geral da FAO.
Quem pagará a fatura do Proer usamericano? A resposta é óbvia: o contribuinte. Prevê-se o desemprego imediato de 11 milhões de pessoas vinculadas ao mercado de capitais e à construção civil. Os fundos de pensão, descapitalizados, não terão como honrar os direitos de milhões de aposentados, sobretudo de quem investiu em previdência privada.
A restrição do crédito tende a inibir a produção e o consumo. Os bancos de investimentos põem as barbas de molho. Os impostos sofrerão aumentos. O mercado ficará sob regime de liberdade vigiada: vale agora o modelo chinês de controle político da economia, e não mais o controle da política pela economia, como ocorre no neoliberalismo.
Em 1967, J.K. Galbraith chamava a atenção para a crise do caráter industrial do capitalismo. Nomes como Ford, Rockefeller, Carnegie ou Guggenheim, exemplos de empreendedores, desapareciam do cenário econômico para dar lugar à ampla rede de acionistas anônimos. O valor da empresa deslocava-se do parque industrial para a Bolsa de Valores.
Na década seguinte, Daniel Bell alertaria para a íntima associação entre informação e especulação, e apontaria as contradições culturais do capitalismo: o ascetismo (= acumulação) em choque com o estímulo consumista; os valores da modernidade destronados pelo caráter iconoclasta das inovações científicas e tecnológicas; lei e ética em antagonismo quanto mais o mercado se arvora em árbitro das relações econômicas e sociais.
Se a queda do Muro de Berlim trouxe ao Leste europeu mais liberdade e menos justiça, introduzindo desigualdades gritantes, o abalo de Wall Street obriga o capitalismo a se repensar. O cassino global torna o mundo mais feliz? Óbvio que não. O fracasso do socialismo real significa vitória do capitalismo virtual (real para apenas 1/3 da humanidade)? Também não.
Não se mede o fracasso do capitalismo por suas crises financeiras, e sim pela exclusão - de acesso a bens essenciais de consumo e direitos de cidadania, como alimentação, saúde e educação -, de 2/3 da humanidade. São 4 bilhões de pessoas que, segundo a ONU, vivem entre a miséria e a pobreza, com renda diária inferior a US$ 3.
Há, sim, que buscar, com urgência, um outro mundo possível, economicamente justo, politicamente democrático e ecologicamente sustentável.