Eu, ultimamente, ando um tanto quanto automático. Sim, aquela época do ano que fazemos tudo de maneira rotineira, que nada é novidade e tudo parece ser empurrado com a barriga. Eu e Kauê (http://musicasemcomeconemfim.blogspot.com/) demos, a essa fase, o nome de fase autômata. Durante esse período de nossas vidas, que vocês já devem ter passado, no dia a dia, não nos animamos para fazer as coisas que devemos fazer, nos tornamos mais insensíveis e qualquer quebra na rotina é motivo de festa - se não são as próprias festas. Dessa maneira, é difícil, para mim, me emocionar com um programa de TV, um filme ou um livro. Eduardo Galeano conseguiu quebrar com esse paradigma vital.
De vez em quando abro o arquivo do livro que baixei para ler algum pequeno trecho. O Livro dos Abraços é fácil de ler assim, de maneira descompromissada. Me parece que o autor de Veias Abertas da América Latina - um clássico da historiografia jornalística - fez o livro para ser lido dessa maneira mesmo: sem ordem, aos pouquinhos. São memórias, ou melhor, recordações, que o autor logo define no começo do livro: "Recordar, do latim re-cordis: tornar a passar pelo coração."
O Livro dos Abraços é o livro que eu gostaria de escrever. Ele é coberto de lirismo do começo ao fim, mas composto densamente também de críticas sociais e políticas, principalmente às ditaduras latinoamericanas, pois nenhum bom marxista pode se deixar levar completamente por ilusões fenomenológicas de nossos próprios sentimentos sobre o mundo, esquecendo das injustiças, repressões, torturas e lutas por uma vida melhor. Então, em pequenos trechos, Eduardo Galeano conta pequenas histórias. Interessantes são, entre os outros, os que têm o título de "dizem as paredes", em que Galeano mostra alguns escritos em muros das cidades da América Latina que visitou.
O livro do uruguaio fala de tudo - que me interesso - um pouco: mundo, liberdade, clausura, Estado, cidades da América Latina, sonhos, realidade, voz humana, amor, noite, História, ditaduras... Enfim, tudo isso de uma maneira bem fácil de ler. Minha primeira impressão foi de que esse livro era direcionado à crianças: literatura infantil. Ao continuar lendo, percebi que não. Adultos têm muito o que aprender lendo essa obra.
Pra mim, que estou andando naquela estrada reta e sem transformações, esperando pelo futuro a cada dia que passa, o livro me encantou. Me encantei com uma obra de 1991 de um autor que deveria ser mais lido pela juventude. Aliás, os grandes jornalistas, historiadores, filósofos, enfim, pensadores da década de 60 e 70 deveriam ser mais lidos pelos que se acham jovens, como foram lidos pelos que se achavam jovens dessa época. Parece que a década de 80, por causa da redemocratização, a década de 90 por causa do aumento do "conforto" para as classes médias e a década de 2000 por causa da Internet fez com que os jovens se desprendessem e não ligassem para a realidade a sua volta, se preocupando com assuntos supérfluos e virtuais.
Acho que um dia todos nós deveríamos escrever um Livro dos Abraços, principalmente quando abraçamos a nossa vida e nosso passado, seja ele turbulento e triste ou de sucessos e amores, mas todos cheios de História.
P.S.: Estou esperando chegar esse livro pela Livraria da Travessa. Sim, o comprei, e está bem barato.
Amo
Há 11 anos
Alberto Kury says:
Vou ler...
Fase autômata
HUAHUa
abç!!
10 de dezembro de 2008 às 16:38