Descobri Jean-Paul Sartre quando tinha meus 18 anos. Comecei pelo seu texto mais didático, "O Existencialismo é um Humanismo", que explica superficialmente os principais conceitos da filosofia defendida por ele e por seus iguais. Depois dele, li vários outros livros dos existencialistas, principalmente de Sartre e Albert Camus, que me fizeram levantar e refletir sobre algumas questões - que, infelizmente não são mais postas - sobre a condição humana.
Primeiro, é importante dizer que não existe natureza humana e, para os existencialistas, não existe Deus. Sendo assim, a existência precede a essência. Ou seja, não somos nada antes de viver. Somos determinados pelas nossas experiências e pelas escolhas que fazemos a partir delas.
Somos livres, mas não em nossa totalidade. Os limites da liberdade são o que a faz real. Qualquer tipo de liberdade total só existe no campo das idéias, não aqui embaixo. Porém, parece que, atualmente, nos prendemos a explicações que tiram de nós a RESPONSABILIDADE de sermos como somos, de escolhermos o que escolhemos. "Nasci assim", "isso é genético", "Deus escolheu", "a sociedade me condiciona totalmente" são frases criadas para eclipsar a liberdade do homem. O único limite da liberdade é ela própria: SEMPRE estamos escolhendo, condicionados pelas nossas experiências.
Responsabilidade. Outra palavra importante para os existencialistas e para Sartre. Em toda escolha que fazemos carregamos o peso de suas conseqüências como se escolhessemos para toda a humanidade. A verdadeira moral laica se baseia na hipótese mais simples: "e se todos, no meu lugar, fizessem como eu? Seria bom? Seria ruim?". Não existe uma bondade ou uma maldade anterior ao homem e não vamos para o céu ou para o inferno. O que existe são escolhas responsáveis, não por você, mas por toda a humanidade. As escolhas que não se enquadram nestas são feitas de má-fé. O individualismo latente de nossa sociedade atual parece lotar nossas escolhas de má-fé. Sabemos que é errado, mas fazemos assim mesmo, pois vamos nos dar bem. Sad, but true.
Enfim, acho que Jean Paul-Sartre, que completa hoje 30 anos da nadificação de seus sonhos, me formou éticamente, moralmente e filosoficamente. Sua perspectiva causa angústia devido a irreversibilidade do tempo: tudo que é escolhido, tudo que é feito, tudo que experienciamos... Nada volta atrás. Forma-me, também, como perspectiva de intelectual: aquele que luta, aquele que atua na sociedade, aquele que sabe o papel que tem frente às desigualdades do mundo. O intelectual atuante.
Poderia escrever mais milhões de parágrafos sobre o autor, mas fica aqui essa pequena homenagem e minha interpretação de seus escritos, com o desejo de que os leitores do blog também se interessem, tanto por sua filósofia quanto pelos seus romances. "A Idade da Razão" e "A Náusea" são ótimos para começar, além do já citado "O Existencialismo é um Humanismo".
E aos filhos de Sartre, como eu, um abraço especial.