No Twitter, outro dia, compararam a Copa do Mundo ao Big Brother Brasil, devido ao alcance da expressão e como as pessoas reproduzem o evento, ou o que significa na vida delas. A comparação é tão infrutífera quanto dizer que todos os garotos do mundo (excetuando-se, talvez, EUA, Venezuela e Caribe), há pelo menos 100 anos, participam de Reality Shows abertos em campos de terra, sem preocupação em ganhar dinheiro, com bolas de meia e chinelos para marcar suas eliminações individualistas.
Deixemos a comparação esdrúxula de lado e falemos, agora, do que é realmente importante. Hoje, vivendo uma constante virtualização (não só no sentido internestico) da identidade, juntar-se em torno de uma bandeira, seja ela de um time ou de uma nação, cria um laço de solidariedade entre aqueles que a fazem. E é isso que o futebol significa: um grande espetáculo de união.
Mas sua raiz não é um show. É uma brincadeira, é o lúdico, é a felicidade de poder abraçar os seus companheiros depois de ajudar a cumprir a sua meta. É abaixar a cabeça em vergonha quando o seu time leva um gol, devido a um pesado sentimento de responsabilidade, por ter sido você um dos causadores da derrota. É juntar-se aos seus amigos e sentir a mais pura catarse, ou seja, sentir o que o próprio jogador sente, ou deveria sentir: xingar os companheiros de time quando seu trabalho é mal executado e chorar de alegria, abraçando-se (seja em volta de uma churrasqueira, ao lado de um rádio de pilha ou dentro de um estádio, junto a 80 ou 80.000) com seus outros parceiros de sentimento.
A Copa do Mundo é o esplendor disso tudo, disso que começa com o brilho dos pobres e é deturpado por desejos monetários de poucos. Sim, homens são vendidos e têm seus destinos traçados por uma quantidade quase inexpressável de dinheiro. Sim, depois que eles envelhecem, se empobrecem, porque não têm a educação necessária para saber administrar a grana que recebem. Sim, movimenta a economia do mundo, mas não a parte que deveria movimentar e transformar.
Mas a Copa do Mundo é o sonho de crianças, tanto das ricas com jabulanis quanto das pobres, que não conseguem ver a educação atual como o caminho para a felicidade, e trocam as salas de aula pelo campinho de futebol e pela bola de R$9,90 comprada com o dinheiro da bala vendida no sinal. É o auge, é o horizonte de realização. É a vontade de defender o seu país, longe de colocar a sua vida e a vida dos outros em risco. Então, que somente por um mês, as vuvuzelas nos ensurdeçam nos estádios e nos jogos, que as pessoas não trabalhem e que o mundo pare, para isso: para manter o sonho vivo e o brilho nos olhos do mundo.