Eu cometi uma besteira há um tempo atrás e acabei preso por sete anos. Hoje, estou em condicional. Me arrependo do que fiz, não deveria ter puxado o gatilho até saber o que acontecia, mas agora já aconteceu e eu pensava que Deus havia feito isso comigo para me castigar por causa de algum pecado que cometi.
Esse erro me atormenta até agora, pois não basta meu psicológico estar afetado: a sociedade não me aceita. Ninguém quer ter em sua pequena empresa um ex-presidiário. No começo desse mês mesmo fui aceito em uma loja de ferragens. Por três dias:
- Ulisses, o senhor não passou no teste. Terei que despedir você.
Não sabia da existência de nenhum teste. Logo perguntei:
- Senhor Luiz, o senhor sabe que o que está fazendo é crime, não?
- Crime por quê? Só porque estou despedindo você?
Relutei por uns instantes. Escolhia com cautela as próximas palavras, mas resolvi ser direto.
- O senhor sabe que sou ex-presidiário, não sabe?
- Sim, vi no computador.
- E é por isso que está me despedindo, correto?
- Não, não é por isso... o senhor não passou no teste...
- Pode falar a verdade, senhor Luiz. O senhor me pagou, não o farei mal.
Naquele momento, meu ex-patrão relutou também, mas escolheu, também, por ser sincero, como eu:
- Sim, foi por causa disso. Não posso colocar em risco minha empresa e os indivíduos que nela trabalham.
Desde então venho entrando em ônibus para pedir dinheiro para pagar meu aluguel - atrasado em quatro meses - e comida para meus filhos. Vou à Igreja todo domingo.
Um dia, em um desses pedidos dentro do ônibus, dois homens me deram, cada um, dois reais e um deles me deu um planfeto. Escrito estava o nome de uma Igreja, que agora não lembro. Não era a que eu participava, mas dei atenção para o que os homens falaram:
- Acredite em Deus. Ele é fiel a você, ele vai te dar dinheiro e saúde! Acredite no sangue de Jesus, pois ele tem poder. Acredite e Deus te dará sucesso, pois Ele é o único que pode dar ou tirar alguma coisa dos homens!
Eu realmente acreditava naquilo, até o momento que um rapaz - que já havia me dado algum dinheiro também -, provavelmente da metade da minha idade, se levantou e falou, baixinho para mim:
- Não... não acredite só em Deus. Acredite primeiro em você. Você é capaz de superar essa situação. O que está no passado não pode ser mudado, mas você pode mudar o presente para melhorar o futuro. E só você pode fazer isso na sua vida, não Deus. Ele não é fiel, quem é fiel é você! Acredite em si mesmo, nas suas escolhas, na sua capacidade de entender o mundo, e tudo vai melhorar.
Ele desceu do ônibus. E eu rasguei o panfleto.
Nanda says:
"to pensando se vou postar esse texto que fiz mesmo"
Até parece que tem que pensar antes de postar um texto desses. Ficou ótimo, como todos os outros... Não preciso dizer o quanto gosto dos seus textos, né?
Mas não vou ficar elogiando... daqui a pouco você tá todo se querendo ai! XD
Beijão :****
27 de novembro de 2008 às 13:36
Verônica says:
Não precisava rasgar o panfleto. O segundo conselho não necessariamente anularia o primeiro, complementaria. Sei lá, essa ajuda extra as vezes é necessária. Só se a pessoa souber aproveitá-la, claro. O importante é que elas não se acomodem nas ajudas externas mas também não virem extremamente individualistas ;p
Vo lançar uma religião.
27 de novembro de 2008 às 13:56