Vemos, no discurso marco-político brasileiro, a queda das ideologias. A defesa dos partidos como unidade de ideias coerentes, propostas para um bom governo interessado no bem comum, esvaziou-se para engrandecer o personalista palavreado apelativo pautado em denuncias e demagogias eleitoreiras.
A luta pela verdadeira transformação da realidade brasileira não tem lugar: o que se observa é cada vez mais uma tentativa conciliatória de práticas essencialmente contraditórias. É impossível haver Reforma Agrária se não houver expropriação. É impossível dar habitação para todos os cidadãos se a atenção continuar centrada em aparências. É impossível dar bem-estar para a população se o Estado se nega a tomar conta das atividades dominadas pelo poder privado, onde o lucro cega a responsabilidade social - exemplo: setor de transportes.
O pragmatismo político leva a isso: valorização de algumas instituições que, ao melhor estilo maquiavélico, manterão as mesmas caras incapazes de atacar as causas no poder, lidando com efeitos para fins eleitoreiros. A ideologia tornou-se um martelo que bate forte sobre uma mesa plana: pode até fazer barulho, mas a cabeça dos pregos já estão batidas. Enquanto isso, as causas, intrinsicamente negativas (desigualdade, falta de educação, saúde e habitação) encontram novos efeitos, que mantém a dominação de antes.
Esta é a nossa aleijada democracia, onde poucos ainda cabrestam muitos e nossos representantes precisam esquivar de balões d'água e bolinhas de papel (ou pedir para que taquem mais). A "governabilidade" molda as ações e alianças de indivíduos que possivelmente têm o interesse de mudar algo. Infelizmente, mudam de maneira incrédula e superficial. O outro lado, dos que são claramente contra o povo, aplaude tais apoios, em seu íntimo político, mas apontam publicamente como corruptos, para parecer mais idônio, sempre pessoalmente, nunca ideologicamente (até porque, suas ideologias, se considerarmos alguma existência, não se sustentam com facilidade). Que suas consciências passem a pagar o preço, porque a população já paga há muito tempo.
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