O silêncio da cidade. No Centro, ando pelas ruas apertadas de gente, a passos de pingüim, em direção à Praça XV. De fato, a Cidade não está vazia, mas em minha mente é como se estivesse. Nenhum rosto dali é familiar. Pra mim, são todos pessoas quaisquer, que se sumissem dali não fariam diferença alguma.
Porém, são todos indivíduos, todos com suas vidas, seus sofrimentos. Andam, como eu, no meio da multidão. Andam, como bois, no meio do pasto, a procura da melhor comida, a procura do melhor emprego, a procura da melhor saída. Não tem saída. Eu não tenho saída também, visto que eu não faria falta também na vida de ninguém dali.
O silêncio da cidade. Os carros passam, mas já não os ouço, porque se tornaram o background de tudo que faço. As buzinas entram por um ouvido e saem pelo outro. Talvez se fosse para o campo todas as buzinas e freadas continuariam ecoando na minha mente até eu me acostumar com os grilos rurais.
Por um momento reparo um mendigo, um qualquer, sentado embaixo de uma marquise. Calado, chama atenção naquele pandemonio multi-étnico que é o Centro da Cidade do Rio de Janeiro. Mas não chama tanta atenção assim. Olho para ele, sinto certa pena, uma pena humanista de perceber que existem milhares a minha volta que, como eu, estão bem melhores que eles por terem, no mínimo, roupas novas e cabelos limpos. Penso que deveria ajudar mas sigo meu caminho. Assim como as centenas que seguem o caminho comigo. Ele, definitivamente, não tem saída.
Esse mendigo não é o único. Vejo pelo menos uns quinze no caminho. Percebo três. E não faço nada. Não tenho muito o que fazer. Eles são mais um background da cidade que, assim como as freadas, as buzinas, as pessoas sem face e minha indiferença perante isso tudo, já fazem parte deste ambiente tão cinza e asfixiante.
De fato, o silêncio da cidade, além de ensurdecedor, nos ofusca.
Amo
Há 11 anos