:D
"Trabalhadores do mundo tudo: UNI-VOS!"
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Manual prático para ser c00l - Volume 1
- Use um número x de piercings, sendo que 1 < x < 5: Furar um pouco o corpo é c00l
- Use alargadores. Ter um buraco de 1cm na orelha é c00l.
- Tenha uma ou duas pequenas tatuagens. Não ter coragem para ter uma super-tatuagem que você sempre sonhou é c00l.
- Seja vegetariano. Respeitar os animais é c00l.
- Ouça Paramore. Bandinha meio-punk, com um instumental meio-legal e uma garota que canta meio-bem é c00l.
- Veja Gray's Anatomy e Dr. House. Acompanhar seriados médicos é c00l.
- Leia Crepúsculo. Gostar de livros para meninas de 13-17 anos é c00l.
- Finja ser old school. Mostrar pra todo mundo que gosta dos Beatles e do The Who mas que não conhece os nomes dos albuns é c00l.
- Tenha um blog/fotolog e faça posts que nem você entende. Ser um mistério até pra si mesmo é c00l.
- Vire as fotos de lado e de cabeça pra baixo. Fazer as pessoas que vêem seu album no orkut aprenderem contorcionismo é c00l.
- Use o mínimo de emoticons possíveis. Parecer sério é c00l.
- Use efeitos de cutout e preto-e-branco do photoshop de maneira abusiva. Não ter fotos naturais é c00l.
- Tenha um album no orkut só de piadinhas e coisinhas engraçadas. Parecer engraçado é c00l.
- Apague seus scraps e deixe somente o favoritos. Fingir que sua vida interessa aos outros é c00l.
- Não anote. Anotar não é c00l. (Nem Mallandro). (http://wagnerebeethoven.blogspot.com/2008/08/pizzicato-polca.html)
- Reclame de tudo. Pagar de incompreendido é c00l.
- Seja radical. Não admitir meio-termo é c00l.
- Para as meninas: Use camisas com algo escrito na altura do peito. Achar que os homens estão realmente olhando para eles é c00l.
É isso aí galera, mais para frente outros posts para pessoas que querem ser c00ls ;D
Hermeneutica
O porquê de Sentenced ser minha banda preferida
Sentenced é minha banda preferida. Vide meu last.fm (http://www.last.fm/user/BrunoKarameikos). Vou explicar nesse post os motivos para eu gostar tanto dessa banda finlandesa que foi enterrada viva em 5/10/2005. E, deixando bem claro, gosto a partir da entrada de Ville Laihiala nos vocais da banda: do CD Down até o Funeral Album.
Musicalmente falando, a banda me agradou bastante os ouvidos. Sim, pois eu comecei a ouvir Heavy Metal há uns anos atrás, e sempre caí mais pro lado do Metal Melódico. E enjoei, como muitos haviam me advertido que iria, de bandas com vocalistas que cortavam os testículos para chegar a notas agudíssimas, solos rápidos simplesmente para serem rápidos e letras do tipo "sou épico, mato dragões e converso com anões". Também nunca me agradou muito as musicas massantes do Prog Metal, com longo solos virtuosos em tempos mais quebrados que os vasos que Chapolim esbarra todas as tardes.
Me encontrei no Gothic Metal finlandês, principalmente os com vocal masculino, pois não tem firulas sem deixar de ter certo requinte. Sentenced, ao ouvir, percebe-se que o vocal de Laihiala é com emoção mas sem apelar para técnicas agudíssimas para "se mostrar". É um vocal rasgado e, bem, de homem. Combina com o que a banda quer passar.
Mas o que mais me importa em citar aqui no blog são as letras do Sentenced e como me identifiquei TANTO com elas. Para um ouvido distraído, parece que as letras falam simplesmente sobre morte, suicídio, melancolia e etc. Mas, de uma maneira geral, são muito mais poéticas e filosóficas que qualquer outra banda de Gothic que se encontra nos ouvidos de muita gente.
Vou citar alguns exemplos aqui.
Dead Moon Rising, (http://letras.terra.com.br/sentenced/82820/) do album Crimson, trata do cair da noite e da interação do eu-lírico com o fim do dia, sendo este seu próprio fim. Enquanto a Lua ascende aos céus, o homem desce à terra. "Porra Bruno, toda banda de Gothic" fala disso. Mas essa letra trata do assunto de uma maneira especial, com um lirismo diferente e profundo, tirando o tema do clichê. Pela primeira estrofe já se percebe isto. Atente a idéia da noite saindo de uma concha e imagine a imagem.
The darkness comes out of her shell…
Yet another cold night in Hell with all the pain
The dying light is losing its glow
And my last glimmer of hope now fades away
Brief is the Light, (http://letras.terra.com.br/sentenced/115488/) do album The Cold White Light, fala da efemeridade da vida e da incompreensão por parte do ser humano da passagem do tempo. Por isso, mostra um carpe diem, pois nossa vida é uma luz breve e devemos aproveitar o maximo de cada dia, pois podemos ser o próximo na fila do tempo para apagar esta luz.
Hear these words I say:
- Make the most out of your day
for brief is the light on our way
on this momentary trail.
Hear these words, awake:
- Make the most out of your day
for brief is the time, so brief is the time
that we're allowed to stay.
Life passes by, melts away like snow in the spring.
We all are blind to the running of time.
Blood and Tears, (http://letras.terra.com.br/sentenced/115499/) também do The Cold White Light, fala da capacidade humana para superar nossas vidas, sempre cheias de problemas. De alguma maneira, a cada "chute da vida", voltamos rastejando para continuar vivendo, para levar outro chute. Mas mesmo assim, insistimos. Vivemos. Não desistimos. Mesmo entre sangue e lágrimas. Sofrimento e tristeza, encontrando sentido para as coisas que nos valem, nem que seja somente momentâneo.
What is it that we’re waiting for?
Looking forward to, preparing for?
Like kicks us in the teeth
Yet something makes us crawl back for more...
Blood and tears upon the altars of our lives we shed
Blood and tears until the sweet release we share in death
Hours like days, weeks feel like years
Decades of Tears
Yet somehow everything seems so worthwhile
For a moment... For a moment...
A música mais filosófica do Sentenced é também do The Cold White Light, e fecha o referido album. Ela é a No One There. (http://letras.terra.com.br/sentenced/114882/) A música, pra mim, é uma das melhores composições do rock, tanto o instrumental quanto a letra. Tratando aqui da letra, a música fala da proximidade da morte. Do que se pensa quando se vê que a morte está chegando e do outro lado não existe nada. A letra toda é uma pérola, uma preciosidade incomparável. Desespero, angústia, tristeza... perceber que somos apenas um com nossa morte, e morreremos sempre sozinhos. Ninguém pode morrer por nós nem conosco, e que não tem ninguém depois da luz. Apesar de ser, para mim, um grande sofrimento tentar reunir aqui alguma parte da letra, vou fazê-lo para manter a forma do post.
When the wind blows through my heart
Shivers me one last time
As I now reach out in the dark
No one there
Why did it have to be so hard
For us to live our lives
Again I reach out in the dark in despair
Your love for me, my love for you
Things we somehow managed to lose
Now there's only the ruthless wind
To blow right through
If freezes my heart, my desperate
To think we both will die alone
E, finalmente, a música que melhor explica o conceito e o caminho da vida, para mim, é a We are but falling leaves, (http://letras.terra.com.br/sentenced/206529/) do The Funeral Album. Somos um caminho para a morte, seja lá qual escolhemos. Somos raios de luz, que viajamos até chegar ao chão. Mas o que mais me toca é a ultima frase da música, que mostra o aprendizado pelo contraste (comparando o que é com o que não é, lado a lado) no maior exemplo para qualquer indivíduo: "Just when we realize that we are alive, we die"
At life's eve our flames will cease
Eternally, unavoidably
Eventually all paths will lead
To the cemetery
We are but falling leaves in the air hovering down
On our way we are spinning around
Scattered fragments of time
Like beams of the light we are
That's all we are
Enfim, não que seja necessário dar motivos para um gosto musical ou seja la qual, mas estes são os fatores que me tocaram em relação ao Sentenced, dando atenção especial às letras. São letras filosóficas, de um cunho um tanto humanista, ainda que melancólicas. Se eu fosse postar ainda as sensacionais letras sarcásticas e as belas letras de amor do Sentenced, esse post ia ser maior ainda.
Fica para o próximo.
Words of 5am
Even if the life is going well, there is something in the other side. I remember now the times we used to take the streets together, raining and running across every alley we knew so well.
Hand in hand, sometimes searching for shelter from the rain, sometimes stoping in the middle of the street to share some heat with a burning kiss. I ran to leave you home without worry about the future.
But now you're gone. And senseless, reasonless, you're not here, not even talking or smiling. I felt this way exactly once, before, but what hurts is that I don't have a clue of what is really happining.
Maybe all this feeling of emptiness that you left inside me can be told by only one word. What was it, anyway? Ah!... The word is saudade.
O Livro dos Abraços - Eduardo Galeano
De vez em quando abro o arquivo do livro que baixei para ler algum pequeno trecho. O Livro dos Abraços é fácil de ler assim, de maneira descompromissada. Me parece que o autor de Veias Abertas da América Latina - um clássico da historiografia jornalística - fez o livro para ser lido dessa maneira mesmo: sem ordem, aos pouquinhos. São memórias, ou melhor, recordações, que o autor logo define no começo do livro: "Recordar, do latim re-cordis: tornar a passar pelo coração."
O Livro dos Abraços é o livro que eu gostaria de escrever. Ele é coberto de lirismo do começo ao fim, mas composto densamente também de críticas sociais e políticas, principalmente às ditaduras latinoamericanas, pois nenhum bom marxista pode se deixar levar completamente por ilusões fenomenológicas de nossos próprios sentimentos sobre o mundo, esquecendo das injustiças, repressões, torturas e lutas por uma vida melhor. Então, em pequenos trechos, Eduardo Galeano conta pequenas histórias. Interessantes são, entre os outros, os que têm o título de "dizem as paredes", em que Galeano mostra alguns escritos em muros das cidades da América Latina que visitou.
O livro do uruguaio fala de tudo - que me interesso - um pouco: mundo, liberdade, clausura, Estado, cidades da América Latina, sonhos, realidade, voz humana, amor, noite, História, ditaduras... Enfim, tudo isso de uma maneira bem fácil de ler. Minha primeira impressão foi de que esse livro era direcionado à crianças: literatura infantil. Ao continuar lendo, percebi que não. Adultos têm muito o que aprender lendo essa obra.
Pra mim, que estou andando naquela estrada reta e sem transformações, esperando pelo futuro a cada dia que passa, o livro me encantou. Me encantei com uma obra de 1991 de um autor que deveria ser mais lido pela juventude. Aliás, os grandes jornalistas, historiadores, filósofos, enfim, pensadores da década de 60 e 70 deveriam ser mais lidos pelos que se acham jovens, como foram lidos pelos que se achavam jovens dessa época. Parece que a década de 80, por causa da redemocratização, a década de 90 por causa do aumento do "conforto" para as classes médias e a década de 2000 por causa da Internet fez com que os jovens se desprendessem e não ligassem para a realidade a sua volta, se preocupando com assuntos supérfluos e virtuais.
Acho que um dia todos nós deveríamos escrever um Livro dos Abraços, principalmente quando abraçamos a nossa vida e nosso passado, seja ele turbulento e triste ou de sucessos e amores, mas todos cheios de História.
P.S.: Estou esperando chegar esse livro pela Livraria da Travessa. Sim, o comprei, e está bem barato.
O Abalo dos Muros - Frei Betto
O apocalipse ideológico no Leste europeu, jamais previsto por qualquer analista, fortaleceu a idéia de que fora do capitalismo não há salvação. Agora, a crise do sistema financeiro derruba o dogma da imaculada concepção do livre mercado como única panacéia para o bom andamento da economia.
Ainda não é o fim do capitalismo, mas talvez seja a agonia do caráter neoliberal que hipertrofiou o sistema financeiro. Acumular fortunas tornou-se mais importante que produzir bens e serviços. A bolha especulativa inflou e, súbito, estourou.
Repete-se, contudo, a velha receita: após privatizar os ganhos, o sistema socializa os prejuízos. Desmorona a cantilena do "menos Estado e mais iniciativa privada". Na hora da crise, apela-se ao Estado como bóia de salvamento na forma de US$ 700 bilhões (5% do PIB dos EUA ou o custo de todo o petróleo consumido em um ano naquele país) a serem injetados para anabolizar o sistema financeiro.
O programa Bolsa Fartura de Bush reúne quantia suficiente para erradicar a fome no mundo. Mas quem se preocupa com os pobres? Devido ao aumento dos preços dos alimentos, nos últimos dozes meses o número de famintos crônicos subiu de 854 milhões para 950 milhões, segundo Jacques Diouf, diretor-geral da FAO.
Quem pagará a fatura do Proer usamericano? A resposta é óbvia: o contribuinte. Prevê-se o desemprego imediato de 11 milhões de pessoas vinculadas ao mercado de capitais e à construção civil. Os fundos de pensão, descapitalizados, não terão como honrar os direitos de milhões de aposentados, sobretudo de quem investiu em previdência privada.
A restrição do crédito tende a inibir a produção e o consumo. Os bancos de investimentos põem as barbas de molho. Os impostos sofrerão aumentos. O mercado ficará sob regime de liberdade vigiada: vale agora o modelo chinês de controle político da economia, e não mais o controle da política pela economia, como ocorre no neoliberalismo.
Em 1967, J.K. Galbraith chamava a atenção para a crise do caráter industrial do capitalismo. Nomes como Ford, Rockefeller, Carnegie ou Guggenheim, exemplos de empreendedores, desapareciam do cenário econômico para dar lugar à ampla rede de acionistas anônimos. O valor da empresa deslocava-se do parque industrial para a Bolsa de Valores.
Na década seguinte, Daniel Bell alertaria para a íntima associação entre informação e especulação, e apontaria as contradições culturais do capitalismo: o ascetismo (= acumulação) em choque com o estímulo consumista; os valores da modernidade destronados pelo caráter iconoclasta das inovações científicas e tecnológicas; lei e ética em antagonismo quanto mais o mercado se arvora em árbitro das relações econômicas e sociais.
Se a queda do Muro de Berlim trouxe ao Leste europeu mais liberdade e menos justiça, introduzindo desigualdades gritantes, o abalo de Wall Street obriga o capitalismo a se repensar. O cassino global torna o mundo mais feliz? Óbvio que não. O fracasso do socialismo real significa vitória do capitalismo virtual (real para apenas 1/3 da humanidade)? Também não.
Não se mede o fracasso do capitalismo por suas crises financeiras, e sim pela exclusão - de acesso a bens essenciais de consumo e direitos de cidadania, como alimentação, saúde e educação -, de 2/3 da humanidade. São 4 bilhões de pessoas que, segundo a ONU, vivem entre a miséria e a pobreza, com renda diária inferior a US$ 3.
Há, sim, que buscar, com urgência, um outro mundo possível, economicamente justo, politicamente democrático e ecologicamente sustentável.
Dentro do ônibus...
Eu cometi uma besteira há um tempo atrás e acabei preso por sete anos. Hoje, estou em condicional. Me arrependo do que fiz, não deveria ter puxado o gatilho até saber o que acontecia, mas agora já aconteceu e eu pensava que Deus havia feito isso comigo para me castigar por causa de algum pecado que cometi.
Esse erro me atormenta até agora, pois não basta meu psicológico estar afetado: a sociedade não me aceita. Ninguém quer ter em sua pequena empresa um ex-presidiário. No começo desse mês mesmo fui aceito em uma loja de ferragens. Por três dias:
- Ulisses, o senhor não passou no teste. Terei que despedir você.
Não sabia da existência de nenhum teste. Logo perguntei:
- Senhor Luiz, o senhor sabe que o que está fazendo é crime, não?
- Crime por quê? Só porque estou despedindo você?
Relutei por uns instantes. Escolhia com cautela as próximas palavras, mas resolvi ser direto.
- O senhor sabe que sou ex-presidiário, não sabe?
- Sim, vi no computador.
- E é por isso que está me despedindo, correto?
- Não, não é por isso... o senhor não passou no teste...
- Pode falar a verdade, senhor Luiz. O senhor me pagou, não o farei mal.
Naquele momento, meu ex-patrão relutou também, mas escolheu, também, por ser sincero, como eu:
- Sim, foi por causa disso. Não posso colocar em risco minha empresa e os indivíduos que nela trabalham.
Desde então venho entrando em ônibus para pedir dinheiro para pagar meu aluguel - atrasado em quatro meses - e comida para meus filhos. Vou à Igreja todo domingo.
Um dia, em um desses pedidos dentro do ônibus, dois homens me deram, cada um, dois reais e um deles me deu um planfeto. Escrito estava o nome de uma Igreja, que agora não lembro. Não era a que eu participava, mas dei atenção para o que os homens falaram:
- Acredite em Deus. Ele é fiel a você, ele vai te dar dinheiro e saúde! Acredite no sangue de Jesus, pois ele tem poder. Acredite e Deus te dará sucesso, pois Ele é o único que pode dar ou tirar alguma coisa dos homens!
Eu realmente acreditava naquilo, até o momento que um rapaz - que já havia me dado algum dinheiro também -, provavelmente da metade da minha idade, se levantou e falou, baixinho para mim:
- Não... não acredite só em Deus. Acredite primeiro em você. Você é capaz de superar essa situação. O que está no passado não pode ser mudado, mas você pode mudar o presente para melhorar o futuro. E só você pode fazer isso na sua vida, não Deus. Ele não é fiel, quem é fiel é você! Acredite em si mesmo, nas suas escolhas, na sua capacidade de entender o mundo, e tudo vai melhorar.
Ele desceu do ônibus. E eu rasguei o panfleto.
Apenas uma frase
Clausura
Sofro de uma prisão nauseante de incapacidade. É como se a cada dia levassem as mais importantes características do meu ser para dentro de um mar das contingências destruidoras de sonhos, usando como armas a rotina do dia-a-dia. Colocam sobre nossa mente que precisamos dançar conforme a música, mas o ritmo é em si uma tranca para um sorriso matinal.
Se for um amor ou medo quaisquer, tanto faz, no final. De uma maneira efêmera, meus sentimentos se tornam fortes para, de um lado, me decepcionar - como é o caso do amor - e, do outro, superar - o medo. Meu maior amor eu ainda não encontrei, e meu maior medo é me tornar apático. Apático a ponto de não querer mais me livrar dessa prisão, dessa solitude, que eu mesmo construi ao meu redor. A ponto de não abrir os olhos e viver uma vida medíocre.
É preciso buscar a transcendência, sempre. É preciso libertar-se, a cada dia, a cada minuto, das grades que constroem e que nós construímos para nós mesmos. E a cada libertação, novos grilhões, pois temos que ter responsabilidade sobre nossos atos e escolhas. E é aí que os sentimentos se diferem: o verdadeiro amor não é aquele que cria medo ao objeto amado ou por ele em si, e o verdadeiro medo é relacionado ao amor que você tem a certos aspectos da sua vida - seja uma causa, seja um afeto. Os dois se unem pela palavra prudência.
E talvez seja por essa prudência que me tranco em paredes ontológicas. Não quero sufocar a mim mesmo vivendo livremente e conhecendo o mundo como uma abelha descobre o que acontece quando perde seu ferrão. Preparo-me, então disputo o mundo. Destruo as fronteiras, como um casulo e como um desbravador. Ser alguém novo, o tempo todo. Essa é a nossa condição como seres livres.
Balada do Amor Clichê
Ele tinha o andar torto de tanto se embreagar
Se encontraram no vagão do trem a se movimentar
Ela sorriu pra ele e o rapaz veio a se envermelhar...
Então começou mais uma linda história de amor
Chocolates e lençóis mesmo na ausência do calor
Algumas brigas resolvidas com um coração de flor
Cada um dava a si seu respectivo valor...
Veio então o dia que ela queria se libertar
As palavras em francês do ébrio não iriam adiantar
As juras de amor iam novamente se quebrar
As brigas já não faziam um ao outro se agüentar...
O sorriso bobo se tornou um olhar de fúria
O andar torto voltou a pertencer à boemia
E os dois passaram a taxar seu amor de infâmia
Separaram-se mas guardaram aquela velha chama...
No trem se encontraram depois novamente
O apaixonado bêbado guardava seu amor latente
E ela o amara de um modo um tanto diferente
"Aquele sentimento que explode no coração da gente..."
E ali mesmo começaram, então, a se amar
Com toques apaixonados vieram a se beijar
A população em volta começou a reclamar
E o maquinista passou a se preocupar...
O trem então perdeu a sua direção
Descarrilhou e caiu em alto-mar
E a morte encontrou os dois amantes
Sorriso torto e andar bobo na eternidade.
Blablabla, clichê. Blablabla, rimas pobres. Blablabla, forma tosca. Aham. Tudo pensado.
Anacronia
Jean-Paul Sartre (A Náusea)
Esse sentimento me deixa sem chão. É extremamente estranho sentir-se apaixonado por memórias de algo que não chegou a ser uma paixão em si. Isso só me faz pensar que as lembranças estão sempre relacionadas ao que pensamos e sentimos hoje. Mas é estranho também o sorriso dela estar tão bem pintado e colorido em minha mente, quase como um Monet. Os olhos expressivos também são importantes, fractando-se a cada sorriso.
Mas isso não é nada pragmático. Como assim, se apaixonar por uma memória? Por um sentimento anacrônico? Pior, um sentimento que pode ser também crônico. Sinto como se não pudesse mais viver sem ele, mas sei que provavelmente amanhã acordarei e nem lembrarei do que estou sentindo no momento.
Tudo que eu queria agora era voltar no tempo e reviver o que acontecera, talvez mais intensamente, com o que sinto agora. Não é propriamente um arrependimento, só uma maneira diferente de ver o que aconteceu. Sei, claro, que é impossível, e isso revira meu estômago e mente de uma maneira inexplicável e que nunca senti antes, desta maneira.
O que eu realmente sei é que eu gostaria que ela tivesse me amado. Gostaria que eu fosse a última imagem em sua mente antes de dormir e a primeira depois de acordar, naquela época. Hoje já não sei. Pensava que minha paz se encontrava em minha solitude, e nesse exato momento ela está abalada.
Agora o Sol já está posto e incontáveis estrelas se põem no céu. Com o Sol, se foi a anacronia? Não sei. Só vendo o sorriso dela, hoje, meus sentimentos se decedirão: sincronizar a paixão ou deixá-la na memória. Eis a questão.
Saudade
Enquanto as gotas no telhado salpicam, voam, são guiadas pelo vento para os meus olhos, eu lembro dos dela e esmoeço. Toda grandeza é insignificante sem o aconchego de seu colo, no qual descansava minhas mais profundas alegrias e desesperos.
Já ouvi uma vez que a saudade é uma permissão concentida que damos a nós mesmos para sentir tristeza. Acrescento: essa pequena tristeza que sinto é o que me faz humano, é o que me aproxima do mundo e de mim mesmo. O pensamento flui como uma folha suave que cai de uma árvore e é levada pelo vento até repousar em um solo-cama fértil.
Eu sei que posso levantar, deixar de pensar nela, abrir um livro, tomar um conhaque. Não quero. Um sentimento de vazio de vez em quando nos faz bem: faz perceber que nem tudo está certo e nem tudo nos completa. Nos tira da inércia. Hoje é contemplação e amanhã pode ser ação ou até esquecimento, mas nunca se mantém só na observação da falta que ela me faz.
Essa falta me domina algumas noites. Em outras, tenho que viver. O melhor momento para refletir sobre a vida é no leito, pois penso tudo que errei e dou desculpas esfarrapadas para tais erros, que nem sempre são realmente erros, mas preciso de uma direção lógica para tudo que acontece comigo. O que é inútil. É muita pretenção tentar entender tudo. Principalmente a saudade...
Ah, essa saudade... pode acabar hoje, no momento em que eu cair no sono. Será que ela vai visitar meus sonhos? Ou será que amanhã estarei preocupado com outras coisas? Não importa. O momento é sublime, triste, belo e completo em si só. Mas eu não sou. Me falta algo. Me falta ela.
Amor em Devir
Vi você parada outro dia apoiada em uma pilastra e aquela história toda de o tempo parar, que a gente vê nos mais clichês textos de amor, aconteceu.
Apesar de eu ter te visto duas, quem sabe três vezes, nenhuma delas foi tão marcante quanto a ultima. Simples como passar a caneta no papel; complicado como colocar uma idéia nele. Você estava ali, sozinha, esperando alguma pessoa ou algum sinal, alguma ligação no celular ou algum abrigo. Ou, quem sabe, algum sinal no celular para receber alguma ligação com alguma pessoa te oferecendo algum abrigo.
Mas o fato é que você estava ali e eu passei. Passei como quem passa, simplesmente. Como quem duvida, como quem está mais preocupado com o futuro do que com o presente. Mais preocupado com o lugar que eu ia do que com o lugar que eu estava. Responsável demais para viver, para ser, e simplesmente estava. Simples devir.
Mesmo assim, todo lugar que passo fica comigo, e você ficou de uma maneira especial. Eu imagino o dia que você entrará no baile em que minha vida se encontra, pedirá licença para a solidão e me puxará para uma valsa silenciosa, que não será "um pra lá, um pra cá". Ok, talvez um forró.
Você talvez não tenha me visto passar, talvez tenha. Eu não estava lá muito apresentável, meio gauché. Na verdade, eu estava como apenas mais um no meio de tantos ali no meio. Da maneira que você estava retrospectiva, poderia passar o mais belo dos cometas na sua frente que você poderia não reparar. Afinal, no que diz respeito à percepção das coisas, quase tudo é possível.
O que eu mais quero, no momento, (por mais que pareça um tanto obsessivo, mas... ah, toda adimiração vem com uma dose, pequena ou grande, de obsessão!) é poder chegar perto de você, ouvir sua voz, apenas uma palavra - porque uma voz bonita é um álcool sinfonioso -, colocar uma flor em seu cabelo, brilho nos seus olhos e uma música no seu coração. Mas isso vai ficar pra outra hora, outro dia. Talvez se houver o contato, todo o encanto se quebrará. Mas só precisaria de um sorriso seu para que tudo volte, de vez, a ser uma dolorosa inspiração, junto a ti.
Grito
Chegou ao topo e olhou para o céu. Algumas núvens roxas pinceladas, mas as estrelas brilhavam como se estivessem milhões de anos luz mais próximos. Não, provavelmente era só aquele prédio a menos de distância mesmo. Mas elas o maravilhavam, e mesmo a lua tímida e minguante no canto de sua visão não prendeu sua atenção. Provavelmente se ele estivesse apaixonado prestaria mais atenção à Mulher da Noite Prateada que a cada mês brilha mais forte, mas não naquele dia.
Enquanto caminhava a passos curtos por aquele chão acima do nível do mar em direção ao abismo, observava as luzes lá embaixo. Daqui de cima parece tudo tão bonito. Pena que lá embaixo tudo é diferente. É sufocante, claustrofóbico, os brilhos que parecem tão belos na verdade me cegam. Não existe outro caminho.
Até que chegou à borda daquele mundo que pertencia naquele momento. Olhou em volta e nenhum som realmente chegava aos seus ouvidos, apenas ecos da vida lá embaixo, como memórias que atormentavam sua mente cansada. Realmente, aquilo parecia bonito, mas era o inferno para ele. Fechou os olhos e respirou fundo.
Ao abrir, olhou para cima e soltou o maior grito que poderia sair daquele corpo. O som ecoava nas estrelas enquanto, por sua boca aberta, seus pulmões de um azul celeste saiam. Ele foi se tornando luz no mesmo momento que de suas costas asas, brancas como sua alma, explodiam suas costas em busca de liberdade. Seu coração brilhava mais vermelho que nunca, e seu grito continuava entoando a mais bela canção libertadora para ele em toda a sua vida.
Antes do grito terminar realmente, ele apagou e desapareceu. Chegou ao extremo de ter de sumir para chegar à liberdade, visto que nem em um caixão se sentiria livre. Sua existência se foi, mas eu ainda ouço os ecos de sua voz a noite, que viaja pelas estrelas, me puxando para fazer o mesmo que ele um dia. Simplesmente gritar, sumir, e ser livre.
Vamos falar de política? Parte 2.
Na última eleição para Presidente da República aqui no Brasil houve um discurso muito expressivo na mídia sobre o nível social das pessoas que votaram em cada um dos candidatos na segunda fase. Claramente, esse discurso era depreciativo no que diz respeito ao vencedor, Lula, por este ter sido eleito pelas camadas baixas da população, chegando a ser exibido em rede nacional um mapa com as regiões do Brasil que o elegeram e as que tiveram maioria de votos em Alckimin. Isso dá brecha para vários outros discursos tipicamente elitistas Brasil afora.
Um desses discursos é o da falta de educação da maior parte da população para votar. Ora, é fato que não é só a educação que faz a eleição se concretizar e o melhor ou pior candidato ser eleito ou não. Certamente, a maior parte da população votou em Lula por uma questão de identificação não só com a imagem construída de "homem do povo", como também em relação aos próprios focos de atuação que o candidato, depois Presidente, supostamente basearia seu governo.
Dizer que o "povo brasileiro é burro e não sabe votar" é tentar defender abertamente uma inexistência de percepção política da população. Toda a população, a partir de sua classe social, tem idéia do que é melhor para si. É claro que o Sul e Sudeste do Brasil teriam maior votação em Alckimin (tirando o Rio de Janeiro, que sempre teve formação mais esquerdista que as outras metrópoles). São as regiões mais desenvolvidas e com o maior número de burgueses que não se atraem por essa visão de "governo para o povo", que o exato contrário são as políticas do PSDB de privatizações e concessões ao grande capital especulativo dos empresários brasileiros e do exterior.
Um grande exemplo dessa diferença de percepção é o governo do Brizola aqui no Rio. Enquanto a classe média e alta falam que o governo foi fraco e que não mudou nada, a classe baixa agradece: Brizola distribuiu posses de terra nas favelas, levou água encanada para muitas comunidades carentes, defendeu o pobre em muitas situações. Deixo bem claro que não sou Brizolista, mas achei um bom exemplo para servir como argumento.
Claro, o povo elegeu o Clodovil e vários outros candidatos inúteis para o Brasil. Mas quem disse que essa população teve tempo para aprender a votar? Ainda serão eleitos mais 10 Clodovis até a democracia se concretizar como um bom sistema de eleição - e realmente é o melhor até agora. O maior exemplo dessa inexperiência ao votar é uma pessoa que nasceu na década de 50, por exemplo. Só foi votar aos 40 anos de idade, devido ao monstruoso Regime Militar aí no meio do caminho. Não se pode comparar a democracia brasileira de 19 anos com a democracia francesa de 200. Lá eles já têm noção dos candidatos que farão mal a sua sociedade, aqui a população vai aprender, com o tempo, que Clodovil não vai levar a absolutamente nada.
Por último, é necessário salientar que a democracia não é feita somente através do voto. Existem várias outras maneiras de expressar sua cidadania, uma delas é discutindo política nos seus diversos ambientes do dia-a-dia - que, pode-se até negar, mas todos são espaços para política, pois em todos existe interação social. Pode-se também se filiar a movimentos sociais, sindicatos, instituições políticas e etc. O voto é importante, sim, mas não é a única arma para fazer nosso país melhorar.
Vamos falar de política?
Tolo é aquele que diz que "Religião e política não se discute". Tudo é discutível, contanto que as partes da discussão sejam razoáveis e racionais a ponto de entender quando seu argumento é colocado por terra. Percebe-se certa intolerância política nos debates ideológicos travados nos meios virtuais e no próprio meio estudantil. Ninguém quer ceder.
Argumentos toscos são utilizados quando eu cito que sou socialista: "Ah, mas o socialismo nunca vai acontecer", "cara, se enxerga, o socialismo não deu certo", "que coisa ultrapassada e hipócrita!"... não se aprofundam à uma argumentação plausível e baseada em críticas aos conceitos diretos da minha posição política.
Há pouco tempo me entreguei a uma reflexão sobre a diferenciação de discussão política para a discussão sobre a corrupção. De fato, estão inteiramente entrelaçadas as duas, mas tratam de matérias totalmente diferentes. Uma coisa é discutir a idéia daquele determinado político ou daquela instituição, a outra é saber a idoneidade desse indíviduo ou dessa corporação.
A discussão de idéias e a difusão delas é a que leva à um desenvolvimento da democracia. Basear-se somente em quanto o candidato é ladrão ou não sempre pode ser levado à manipulações e interesses facilmente construídos.
Claro, a discussão sobre a corrupção é MUITO necessária, e deve ser MUITO combatida, porém a democracia não é baseada nisso, como a mídia sensacionalista e elitista de nosso país cisma em tentar frizar.
Abro aqui nesse blog um espaço livre para discussão de política, contanto que com argumentos plausíveis e desenvolvidos.
No próximo post vou falar sobre a participação e percepção popular na política do Brasil, a idéia de que o "povo não sabe votar" e o desenvolvimento da democracia.
Soneto do Errante Amante
Você, vendo que ainda me levanto!
Não desmanche o coração com tal espanto;
Se me tornarei, por ti, alma errante.
Quantos arpejos, não sabes quanto!
A cada nota que minha voz cante:
Melodia um tanto arrepiante,
Espalharia todas com meu canto!
Saibas que como a neve me derreto,
Que como a rocha, sofro a erosão,
e minha música se torna soneto.
E quando puder cantar minha canção
Som tão ritmado e tão inquieto
Em seus braços, encontrarei salvação.
Auto-Ostracismo
Não sabia muito bem para onde ir, na verdade, não sabia nem onde estava. Sua mente o obrigava a fechar os olhos quando precisava ver, escurecer o que precisava ficar claro e enfraquecer onde precisava haver luta.
Abalado, foi-se fechando no ar de dentro dos pulmões, sem ligar para o que havia em volta. Ele precisava desse recolhimento, para que um tempo depois, seja um segundo ou um século, ele possa explodir para o mundo. Mas prender-se no seu próprio peito era algo muito difícil para um coração conturbado.
Mas aos poucos foi conseguindo se encontrar nessa auto-perseguição implacável. Não era como correr atrás do próprio rabo, e sim correr atrás de um espelho que caminha na sua frente na mesma velocidade que você.
Calou-se, pois queria encontrar, um dia, sua voz serenizada. Tapou os ouvidos pois queria ouvir, um dia, os mais doces sons da Terra. Fechou os olhos pois queria ver, um dia, no espelho uma imagem que lhe agradasse a todo momento que visse.
Até que, finalmente, sua vida parou. O mundo, não.
Anti-ode à juventude da primeira década do século XXI
É vagamente incompreensível
Estando em frente ao inabalável
Rock'n Roll ao som de conversível.
Afogada em toda incompletude
Na corrente da futilidade
Esperando que o mundo mude
Escutando música toda tarde!
Tosca essa nossa juventude
Não se espelha nos ídolos de 70
Discutindo em tudo se ilude
Apontando o que não experimenta.
Uma Juventude multifacetada
Mesmo dentro dos grupos não tem igual
Modelo ou pseudo-intelectual
Lendo romances de Capa e Espada
Dificil unificar os jovens
Mesmo sendo sendo da mesma idade:
Dos adultos, querem os bens
Das crianças, responsabilidade.
Alguns pensamentos que você, um dia, gostaria de ter
Já não me interessa se nós não pensamos, ou nunca chegamos a pensar, em mim. De fato, saber isso não faz a menor diferença, visto que nunca confirmaria nada: as pessoas mentem e se iludem ao seu bel prazer ou sofrimento.
Não me interessa também nossos anceios, e sim as atitudes que tomamos para que chegássemos a essa condição em que estamos. Nossa intenção agora não é mais do que uma maneira de abrandar a nossa pena: nunca de nos absolver.
Não me interessa que nós pensemos que tudo aconteceu como tinha que acontecer, até porque a maneira que nós enfrentamos o fato é a impulsão que nos induz à resposta, seja ele interpretado como uma queda ou uma vitória gloriosa.
Não me interessa se nos achamos inúteis: nós nunca nos acharemos úteis o suficiente.
Não me interessa se nos achamos feios: a beleza está no sentir, e não nos sentidos.
Não me interessa se nos cobramos demais: no final, nosso livre arbítrio sempre nos dá a força que precisamos.
Não me interessa se dizemos que não temos força para amar: com certeza é uma mentira.
Devaneios Urbanos
Porém, são todos indivíduos, todos com suas vidas, seus sofrimentos. Andam, como eu, no meio da multidão. Andam, como bois, no meio do pasto, a procura da melhor comida, a procura do melhor emprego, a procura da melhor saída. Não tem saída. Eu não tenho saída também, visto que eu não faria falta também na vida de ninguém dali.
O silêncio da cidade. Os carros passam, mas já não os ouço, porque se tornaram o background de tudo que faço. As buzinas entram por um ouvido e saem pelo outro. Talvez se fosse para o campo todas as buzinas e freadas continuariam ecoando na minha mente até eu me acostumar com os grilos rurais.
Por um momento reparo um mendigo, um qualquer, sentado embaixo de uma marquise. Calado, chama atenção naquele pandemonio multi-étnico que é o Centro da Cidade do Rio de Janeiro. Mas não chama tanta atenção assim. Olho para ele, sinto certa pena, uma pena humanista de perceber que existem milhares a minha volta que, como eu, estão bem melhores que eles por terem, no mínimo, roupas novas e cabelos limpos. Penso que deveria ajudar mas sigo meu caminho. Assim como as centenas que seguem o caminho comigo. Ele, definitivamente, não tem saída.
Esse mendigo não é o único. Vejo pelo menos uns quinze no caminho. Percebo três. E não faço nada. Não tenho muito o que fazer. Eles são mais um background da cidade que, assim como as freadas, as buzinas, as pessoas sem face e minha indiferença perante isso tudo, já fazem parte deste ambiente tão cinza e asfixiante.
De fato, o silêncio da cidade, além de ensurdecedor, nos ofusca.
Brasileiros, sim. Mas... por quê?
De fato, não é a língua. Acho que há um bom tempo a língua deixou de ser um fator para a criação de uma identidade nacional. Vamos ao exemplo da Suíça: o norte fala alemão, o nordeste fala francês e o sul italiano, e mesmo assim todos levantam os braços e se auto-proclamam suíços. A Língua Portuguesa não é unitária no Brasil, visto que existem várias expressões que as diferentes regiões não se fazem entender. E, mesmo se fosse unitária... Portugal, Angola e Moçambique seriam Brasil?
Com certeza também não é a religião, por motivos óbvios e claramente vistos no cotidiano. Mesmo a maioria da população se dizendo católica, existem milhões de protestantes, evangélicos, espíritas, seguidores das religiões afro-descendentes... logo, não existe uma verdadeira unidade.
Se formos ver pelo lado da Cultura, menos ainda. Podemos tomar por exemplo a visão que o Brasil exporta em relação ao seu turismo. Ele não exporta o Cangaço, os índios amazônicos, a música sertaneja ou o Centro de Tradições Gaúchas. Ele exporta o Corcovado, a caipirinha, samba, carnaval, bundas... de fato, características bastante regionalizadas do sudeste brasileiro, mais especificamente do Rio de Janeiro.
Não é o índio, porquê não influênciaram muito na população brasileira por terem sido dizimados na colonização. Não é o português, porquê existiram outros colonizadores europeus. Não é o negro, porquê não existe a cultura negra é só uma parte no Brasil. Não é o asiático porquê vieram tardiamente.
Mesmo assim, mesmo não encontrando um motivo real, algo que nos una por completo, todos gritamos "SOU BRASILEIRO", com orgulho ou não. E realmente, esse meta-nós pode ser a única coisa que nos une. Não é, de longe, porque nascemos em algum lugar, pois filhos de brasileiros no exterior podem ser considerados brasileiros. Não é, também, o fato de estarmos sob a presidência de um mesmo senhor sem dedo, pois nem todos votaram nele. E é claro que essa união sem motivo é boa para esse tal Brasil que não sabemos o que é, visto que temos algo pelo que lutar, algo para transformar, e com certeza segregação nos seria nocivo: "dividir para conquistar", diziam os Romanos. Então, quanto mais aceitarmos as diferenças entre as regiões e tentar consertar o que há de mal, melhor para essa nação em constante construção, que é o Brasil.
MÚSICA DA SEMANA ATUALIZADA!
O amor não é cego
E brada tais palavras com certeza.
Não sabem deste amor a natureza
E tais brados são os que eu sempre nego
(e ao Amor sempre me entrego.)
Quem o diz não teve mulher amada:
Das que são fiéis à bela liberdade,
Que vivem com perfeita seriedade
Em um estado constante de risada.
Espero que eles peçam perdão
Dos tolos que falam sem pensar:
Como pode ser cego, se no olhar
De quem se ama se encontra o coração?
Bruno Marconi da Costa - Rio de Janeiro - 15/01/2008 (00:45)
Espero que gostem, fiz tentando dormir e depois de ler uns dez sonetos de Camões.
Beijos e abraços!
Carta ao Sentimento de Perda
Caro Sentimento de Perda,
Quando você vier, peço que seja tranqüilo e brando. Não me faça entrar em desespero, pois tenho que lidar com o que perdi, com o que ficou, comigo e com você.
Peço também para que não seja vazio e sem sentido, de tal maneira que, mesmo que sua presença seja algo negativo, eu possa colher algo que me faça amadurecer nesse estado ressentido.
Venha, e quando vier, faça-me sentir que perdi apenas o que realmente foi embora, e não todas as milhares de coisas ao meu redor que me fazem ter motivos para viver.
Já que você tem que vir, que me morda e me assopre, não me faça afogar em lágrimas e nem me sufocar no meu amor-próprio, mas sim a noção de que as coisas vão e vêm, e que nenhuma Vida é um caminho de terra trilhado no meio dos campos verdejantes, e sim asfalto esburacado no meio de uma cidade barulhenta e cheia de curvas.
Ao invés de me prender à coisa perdida, venha e me traga a Liberdade daqueles que amam puramente, sem egoísmo e com olhares gauché sobre tudo que já foi embora, prezando apenas pelo bem-estar dos que ficaram e de mim mesmo.
Enfim, queridíssimo Sentimento de Perda, seja Divino, e não Humano.
Beijos,
Bruno.
Sobre os Sorrisos Matinais
Desejar "felicidades" é algo muito demodê, concorda? Além de ser algo vago demais... "Felicidades", dependendo da pessoa, pode ser um emprego, um carro, dinheiro, uma namorada, uma curtição com os amigos, tomar cerveja com Trakinas o dia inteiro, etc. O que me questiono é: essa felicidade é duradoura?
Felicidade eterna é inexistente, para mim. É impossível ser feliz o tempo todo, e quem deseja isso é no mínimo um iludido e esquizofrênico que não anda na rua para não ver mendigos segurando a barra de sua calça e pedindo alguns centavos para seu pão diário.
Então, felicidade passageira por felicidade passageira, eu acho que o melhor é que ela seja de manhã! O que eu quero para cada um é que vocês acordem de manhã, se olhem no espelho, dêem um sorriso e consigam falar "tá aí uma pessoa feliz". Pronto! Nada mais atrapalhará o seu dia, tudo vai ser visto com mais tranqüilidade e, enquanto você conseguir manter o sorriso matinal, você vai viver de uma maneira muito mais branda e leve!
Então, a melhor maneira de começar o dia é com um sorriso, e perceber que a sua vida lhe agrada - por mais que anseie por mais - e que nada, ou pouca coisa, pode abalar esse seu estado de espírito.
A todos que estão lendo, muitos Sorrisos Matinais em 2008 e nas suas vidas!
Eu te sinto assim
Você tem uma voz que é tão baixa e tão rara, tanto em qualidade quanto em quantidade, que uma palavra sua ganha importância maior do que mil palavras de qualquer um, pois se valoriza e todos querem ouvir quando é falada. Isso por um lado é bom, e por outro, ruim: realmente, você ouve mais do que fala, talvez por respeitar o fato de ter dois ouvidos eu uma boca, mas isso leva a todos desconhecerem a maneira que você pensa. Daí vem o grande mistério, criando as dúvidas dos que gostariam de ter qualquer relação com você. Daí vem a grande mágica.
Você canta sem emitir som, e mesmo assim, eu consigo imaginar sua voz tomando conta do ambiente. Talvez pelo fato de você não ter média e nem pequena estatura e conseguir chamar atenção de todos em qualquer lugar que vai. Quando você entra em um lugar, parece que dança em volta de todos, mesmo ficando parada o tempo todo. Um ballet magestoso, com sorriso entre os lábios e refrescando a todos com a leveza e o vento proveniente dos seus movimentos.
Você tem esse sorriso aberto, porém confiado apenas a quem lhe consegue fazer sorrir. Por ser tão moderadamente sorridente, outra coisa rara e gratificante de ver é você gargalhando e mostrando que, pelo menos uma vez ou outra, eu lhe fiz feliz.
Eu te sinto assim porque você é pura poesia, rodando minha casa nos dias de chuva e me fazendo lembrar de tudo que tivemos, imaginando tudo que podemos ter. Sua imagem balança o mundo, me faz sentir quem eu sou e sentir o que eu tenho medo de sentir por você, por você ser tão fechada e rara em tudo que faz. Ainda assim existem os carvalhos e as árvores artificialmente plantadas, que guardam as doces lembranças, dos tenros abraços e dos contínuos beijos, protegidos do Sol pelas folhas e protegidos do esquecimento pela Memória e pelas cartas que lhe escrevi.